segunda-feira, 27 de junho de 2011

A BAILARINA - Cecília Meireles


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.


Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.


Cecília Meireles


domingo, 26 de junho de 2011

ABSTRACIONISMO NA PINTURA.


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 O abstracionismo surgiu a partir das experiências das vanguardas européias, tendência das artes plásticas desenvolvida no início do século XX na Alemanha,  onde a intenção era romper com o rigor formal da arte acadêmica. As cores e as formas são criadas livremente. Na Alemanha surge o movimento denominado "Der blaue Reiter" (O Cavaleiro Azul) cujos fundadores são  Kandinsky, (russo-1866-1944) Franz Marc(alemão) -1880-1916-) entre outros.

  O Movimento   Abstracionista busca a Expressão pela cor e formas espontâneas, tendo em vista que naquele momento, para eles, não cabia mais à arte ser mera reprodução do real.

É uma forma de arte que não representa objetos ou figuras concretas, próprias da nossa realidade.

 Característica do abstracionismo é a compreensão da pintura como meio de  expressão de emoções intensas. Execução cheia de  força, vibração,  espontaneidade e automatismo. Não usa muita das vezes  dos meios tradicionais de execução  como, pincéis, trincha, espátulas entre outros meios.A técnica , normalmente é a  pintura direta na parede ou no chão, em telas enormes, utilizando tinta à óleo, pasta espessa de areia, vidro moído, etc..

arte abstrata, coloca na cor e na forma a sua expressividade maior. Estes artistas se aprofundam em pesquisas cromáticas, conseguindo variações espaciais e formais na pintura, através das tonalidades e matizes obtidos com uma variação de cores bem vibrantes.


Franz Marc- Tirol-1913-1914

  O  Wassili Kandinsky (1866 - 1944) pode ser considerado um dos pioneiros na realização de pinturas não-figurativas.Nasceu em 4 de dezembro de 1866 em Moscou na Rússia, e morreu em 13 de dezembro de 1944 em Neuilly-sur-Seine, na França.

Algumas obras de Kandinsky

  O estilo do pintor era abstrato, gostava de explorar várias cores juntas, gostava da relação entre a arte e a música e foi o pai do abstratismo.
Franz Marc, nascido Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique, 8 de fevereiro de 1880 - Gussainville, 4 de março de 1916), pintor alemão, foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha. Filho de Wilhelm Marc, um pintor profissional de paisagens e de Sophie Marc, uma estrita calvinista, descendente dos huguenotes que se estabeleceram na Alsácia, decidiu iniciar seus estudos na Academia de Belas Artes de Munique, em 1900, depois de passar pela filosofia e pela teologia. Suas primeiras criações foram paisagens, de estilo naturalista. 
  Já no Brasil , temos os representantes : Manabu Mabe e Tomie Ohtake ,que aproximam-se do abstracionismo sensível, ao qual também aderiram os artistas Cícero Dias e Antonio Bandeira. Com relação à abstração geométrica, esta encontra representantes nos artistas reunidos no movimento concreto de São Paulo (Grupo Ruptura) e do Rio de Janeiro (Grupo Frente), assim como no neoconcretismo.

 Jane



sexta-feira, 24 de junho de 2011

# ADÉLIA PRADO - LEITURA- MACIEIRAS E O AMOR NO ÉTER

LEITURA:


Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?
Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.

 Adélia Prado             
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                                              O Amor no éter.

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.

Adélia Prado

Alberto Caeiro, Heterônimo de Fernando Pessoa -UM VENTO MUITO LEVE PASSA

 

Um Vento Muito Leve Passa


Leve, leve, muito leve,

Um vento muito leve passa,

E vai-se, sempre muito leve.

E eu não sei o que penso

Nem procuro sabê-lo.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XIII"  -Heterônimo de Fernando Pessoa

   Fernando Pessoa explicou a “vida”de cada um de seus heterônimos. Mais do que meros pseudônimos, outros nomes com os quais um autor assina sua obra, os heterônimos são invenções de personagens completos, que têm uma biografia própria, estilos literários diferenciados, e que produzem uma obra paralela à do seu criador.
  Fernando Pessoa criou várias dessas personagens. Desde cedo, Fernando Pessoa inventara seus companheiros. Ainda em Durban, imagina os heterônimos Charles Robert Anon e H. M. F. Lecher. Cria também o especialista em palavras cruzadas Alexander Search e outras figuras menores. Mas seria no dia 8 de março de 1914 que os heterônimos começariam a aparecer com toda a força.Neste dia, Pessoa escreve, de uma só vez, os 49 poemas de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro. Como resposta, escreve também os seis poemas de Chuva Oblíqua, que assina com seu próprio nome. Logo, inventaria Álvaro de Campos e, em junho do mesmo ano, Ricardo Reis. Um semi-heterônimo de Pessoa, Bernardo Soares, só em 1982 teve sua obra, O Livro do Desassossego,composta por fragmentos de prosa poética, publicada.
  Assim  Fernando Pessoa apresenta a vida do mestre de todos, Alberto Caeiro:

"Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morrendo o pai e a mãe, e  ficou em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso."
   Fernando Pessoa cria uma biografia para Caeiro que se encaixa com perfeição na sua poesia, como podemos observar nos 49 poemas da série O Guardador de Rebanhos. Segundo Fernando Pessoa, foram escritos na noite de 8 de Março de 1914, de um só fôlego, sem interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz exatamente a busca fundamental de Alberto Caeiro: completa naturalidade.
“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar...”
  Escrevia mal o Português. É o pretenso mestre de A. de Campos e de R. Reis. É anti-metafísico; é menos culto e complicado do que R. Reis, mas mais alegre e franco. É sensacionista.
  Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.
  Para Caeiro, “pensar” é estar doente dos olhos. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”. Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afeta Pessoa.
    É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à percepção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação dos objetos originais. Constrói os seus poemas a partir de matéria não-poética, mas é o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objetividade das sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento.
   Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um fato maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”.
  Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo; por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.
  Muitos estudiosos  ainda continuam discutindo  a seguinte questão: Por que Fernando Pessoa teria utilizado estes heterônimos ?
 
By: Jane

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Carlos Drummond de Andrade - O MUNDO É GRANDE

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O mundo é grande




O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar. 


(Carlos Drummond de Andrade in “Amar se Aprende Amando”)







Moacir Gadotti e o paradigma holístico do ato de educar.


A construção de uma nova sociedade não pode ser adiada para o momento da revolução ou da vitória eleitoral”  .Moacir Gadotti


    Moacir Gadotti  nasceu em Rodeio,Santa Catarina, em 1 de outubro de 1941   licenciou-se em Pedagogia e Filosofia, além de ter defendido mestrado e doutorado, e obter livre docência, sempre na área da educação.Até onde sabemos, Gadotti é professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) desde 1991 e dirige hoje o Instituto Paulo Freire.
    Este breve histórico desde pensador,  são pequenos retalhos de tudo que ele tem feito pelos questionamentos sobre a Educação.Ele desenvolve , de maneira original o termo “paradigma holístico”, como ele mesmo usa, para transmitir a dimensão que acredita ser viável para preconizar o  ato de educar.
  Quando entrevistado  pela jornalista Fraoze Chibé - Se  o problema que está em nós, aprisionados em uma lógica linear, a busca pelo sentido da solidariedade esbarra no desapego religioso, existencial, pela ausência de auto importância em nossos atos ?
    E Gadotti, responde – O problema está em nós quanto nas estruturas que construimos.Não se muda o mundo sem uma nova teoria, sem uma nova lógica.Para mudar é necessário criar uma outra teoria, uma outra lógica, para além da lógica do capital e do seu mercado.Uma nova lógica de poder está sendo apontada pelos movimentos sociais através de suas ações globais pela justiça e paz, pela ética na política, pelo consumo ético e solidário que não destrói o planeta. Nesses , sentido, educar para um outro mundo possível é educar para superar a lógica desumanizadora do capital que tem no individualismo e no lucro seus fundamentos, é educar para transformar radicalmente o modelo  econômico e político atual, como sustenta István Mészáros em seu belo livro A Educação  para  Além do Capital. Ao mesmo tempo, tudo isso tem a ver essencialmente com o sentido profundo que construímos para nossa vida .A responsabilidade não é apenas social.É também individual, pessoal.
    Para Gadotti,  educar para viver harmoniosamente no Cosmos, é educar para um outro mundo possível. Só assim poderemos entender hoje os problemas do aquecimento global, da desertificação , do desflorestamento,da água, do lixo e dos problemas que atingem humanos e não humanos.Os paradigmas clássicos, arrogantemente antropocêntricos e industrialistas, não têm suficiente abrangência para explicar essa realidade cósmica.Os paradigmas clássicos estão  levando o planeta ao esgotamento de seus recursos naturais.    
     A crise atual é uma crise de paradigmas civilizatórios. Educar para outros mundos possíveis supõe um novo paradigma, um paradigma holístico.
  Só o povo organizado pode fazer história. Os movimentos sociais contemporâneos não querem ficar na platéia , na arquibancada. A sociedade civil não pode assistir, tem que ser protagonista deste outro mundo possível, fazendo cobranças para que a esperasnça se torne realidade, porque o neoliberalismo ainda está vivo, muito vivo, ainda não foi derrotado.
    Quando perguntado a Gadotti  sobre  o diagnóstico que ele faz da educação básica no Brasil e quais os principais problemas, avanços e retrocessos que a educação vive ?
Gadotti responde- Considero a educação básica como o lugar de produção da liberdade, da criação do destino de cada um, de cada uma. Por isso, não cuidar da escola básica é não cuidar da nação, do destino da sociedade, da libertação de cada um. Para muitos, a escola básica é o único espaço público e democrático de que dispõem. Apesar do avanço na matrícula de crianças e jovens de 7 a 14 anos no ensino fundamental no Brasil, ainda existe o problema grave do abandono e da defasagem série/idade. As crianças pobres podem estar matriculadas na escola, mas sua cultura aí não está. Não basta incluir crianças na escola; é preciso incluí-las com uma nova qualidade. 
    Para ele o professor caminha lado a lado com a transformação da sociedade, não é um ente abstrato, ausente, mas uma presença atuante, participante e "dirigente", que organiza, concretiza a ideologia da classe que representa esperança.
   Pela educação, queremos mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois as grandes transformações não se dão  apenas como resultantes dos grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Por tanto, não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente.
Suas Obras: 1- Pedagogia: diálogo e conflito. (Cortez, 1985); 2-Educação e compromisso. (Papirus, 1985);3- Educação e poder. (Cortez, 1988); 4-Marx: transformar o Mundo. (FTD, 1989);5- Histórias das Idéias Pedagógicas (Ática, 1993); 6-Pedagogia da Práxis (Cortez, 1995);7- Paulo Freire: Uma bibliografia (Cortez, 1996); 8- Perspectivas Atuais da Educação (Artmed, 2000); 9- Pedagogia da Terra (Petrópolis, 2000); 10- Os Mestres de  Rousseau (Cortez, 2004); 11- Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido (WTC Editora, 2007); 12-Educar para um Outro Mundo Possível (Publisher Brasil, 2007).

   É  importante  pensarmos que para garantirmos o respeito às diferenças, à liberdade de ser e de pensar, tanto de alunos, educadores quanto  do papel da  família nos processos de participação nas escolas a  democracia só se garante e se exercita no confronto entre as diferenças políticas, ideológicas, sociais, psicológicas, entre outras.
   Esse confronto, porém, para ser democrático, precisa fundamentar-se na ampla possibilidade de informação, de reflexão, de conhecimento, de crítica , de parceria entre instituições governamentais,sindicatos voltados para educação, escola-família e no equilíbrio de forças, que garantam a discussão e a viabilidade das propostas voltadas para o estabelecimento do paradigma holístico do ato de educar.

By: Jane



CECÍLIA MEIRELES- POESIAS

“Aprendi com as primaveras a me deixar cortar e voltar inteira”.
Cecília Meireles.
SERENATA

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.


Murmúrio
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!

Motivo da rosa
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.                                        
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?


Noturno
Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?
E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?

Que vale o pensamento humano,
esforçado e vencido,
na turbulência das horas?

Que valem a conversa apenas murmurada,
a erma ternura, os delicados adeuses?

Que valem as pálpebras da tímida esperança,
orvalhadas de trêmulo sal?

O sangue e a lágrima são pequenos cristais sutis,
no profundo diagrama.

E o homem tão inutilmente pensante e pensado
só tem a tristeza para distingui-lo.

Porque havia nas úmidas paragens
animais adormecidos, com o mesmo mistério humano:
grandes como pórticos, suaves como veludo,
mas sem lembranças históricas,
sem compromissos de viver.

Grandes animais sem passado, sem antecedentes,
puros e límpidos,
apenas com o peso do trabalho em seus poderosos flancos
e noções de água e de primavera nas tranqüilas narinas
e na seda longa das crinas desfraldadas.

Mas a noite desmanchava-se no oriente,
cheia de flores amarelas e vermelhas.
E os cavalos erguiam, entre mil sonhos vacilantes,
erguiam no ar a vigorosa cabeça,
e começavam a puxar as imensas rodas do dia.

Ah! o despertar dos animais no vasto campo!
Este sair do sono, este continuar da vida!
O caminho que vai das pastagens etéreas da noite
ao claro dia da humana vassalagem!


É preciso não esquecer nada
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Nas asas da borboleta
No mistério do Sem-Fim,                                                            
equilibra-se um  planeta.
No planeta um jardim.
No jardim um canteiro.
No canteiro uma violeta.
E na Violeta,
Entre o mistério do Sem-Fim e o planeta,
O dia inteiro,
A asa de uma borboleta.

Cecília Meireles

quarta-feira, 22 de junho de 2011

CARTILHA DE COMBATE AO TABAGISMO


Dependência Química é doença e tem tratamento.
Diga NÃO AS DEPENDÊNCIAS.
Adote Saúde como seu estilo de vida!

ESTA CARTILHA FOI PUBLICADA PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL.


Atualmente, o tabagismo é amplamente reconhecido como uma doença epidêmica resultante da dependência de nicotina e classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no grupo dos transtornos mentais e de
comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas. Essa dependência expõe continuamente os fumantes a cerca de 4.720 substâncias tóxicas, fazendo com que o tabagismo seja fator causal de aproximadamente 50 doenças diferentes, destacando-se as doenças cardiovasculares, o câncer e as doenças respiratórias obstrutivas crônicas.
Tabagismo no mundo .
O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo. A OMS estima que um terço da população mundial adulta, isto é, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas (entre as quais 200 milhões de mulheres), sejam fumantes. Pesquisas
comprovam que aproximadamente 47% de toda a população masculina e 12% da população
feminina no mundo fumam. Enquanto nos países em desenvolvimento os fumantes constituem 48% da população masculina e 7% da população feminina, nos países desenvolvidos a participação das mulheres mais do que triplica: 42% dos homens e 24% das mulheres têm o comportamento de fumar.
Epidemiologia:

Mundo 
1,2 bilhão de fumantes  5 milhões de mortes/ano (2030 = 10 milhões de morte/ano
Brasil
1/3 da população adulta fuma
(100 bilhões de cigarros/ano)
16,7 milhões homens,
11,2 milhões mulheres.
200 mil mortes/ano.

Como resultado, as estatísticas de mortalidade pelo tabagismo são alarmantes: a cada ano, o uso dos derivados do tabaco mata cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo e este número tende a ser crescente.
Atualmente, vem causando mais mortes prematuras no mundo do que a soma de mortes provocadas por AIDS, consumo de cocaína, heroína, álcool, acidentes de trânsito, incêndios e suicídios juntos.
E se a tendência de consumo não for revertida, nos próximos 30 a 40 anos (quando os fumantes jovens de hoje atingirem a meia idade), a epidemia tabagística será responsável por 10 milhões de mortes por ano (metade delas em indivíduos em idade produtiva, entre 35 e 69 anos) sendo que 70% delas ocorrerão em países em desenvolvimento (WHO, 1996).
Para quem começa a fumar na adolescência:
➢ 50% morrem devido ao cigarro
➢ Metade com menos de 69 anos: perdendo 20-25 anos de vida
➢ Metade com mais de 69 anos: perdendo 8 anos de vida
No entanto, se a pessoa parar de fumar os riscos diminuem.
Ao consumo dos derivados do tabaco são atribuídas, entre outras:
➢ 30% das mortes por câncer
➢ 45% das mortes por doença coronariana
➢ 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica
➢ 25% das mortes por doença cérebro-vascular
Os tipos de câncer que incidem com maior freqüência em fumantes são os de pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo do útero, estômago e fígado. Vale ressaltar que o câncer de pulmão, provocado pelo tabagismo em 90% dos casos, ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer no sexo masculino, na maioria dos países desenvolvidos e no Brasil. Além disso, apesar dos avanços terapêuticos, esse tipo de câncer apresenta uma alta letalidade (Samet, 1995).
Compostos do cigarro Na fumaça dos produtos derivados do tabaco podem ser detectadas cerca de 4720 substâncias tóxicas diferentes. Dentre elas o alcatrão, a nicotina, o monóxido de carbono, resíduos de fertilizantes e pesticidas, metais pesados e até substâncias radioativas (Ministério da Saúde, 1998).
O alcatrão é reconhecido como um carcinógeno potente, capaz de atuar nas três fases da carcinogênese: indução, promoção e progressão. A nicotina é uma droga psicoativa capaz de causar dependência, pelos mesmos mecanismos da cocaína, maconha, heroína e álcool; além disso, tem efeitos vasoconstritores, provoca aumento das lipoproteínas de baixa densidade e adesividade plaquetária, contribuindo para a
formação de trombos, aterosclerose e infarto agudo do miocárdio. O monóxido de carbono, o mesmo gás tóxico  exalado do cano de descarga de automóveis, é gerado em grandes quantidades pelo processo de queima do tabaco.
No sangue, forma a carboxihemoglobina e contribui para a diminuição da oxigenação dos tecidos, potencializando a ação cardiovascular da nicotina.Poluição Tabagística Ambiental.Os danos provocados pela poluição tabagística ambiental ampliam mais ainda a dimensão do problema. A maior parte do tempo total de queima de um cigarro (96%) corresponde à fumaça que sai silenciosamente da ponta acesa do mesmo. Essa fumaça se difunde pelo ambiente homogeneamente,fazendo com que mesmo as pessoas que estão mais distantes dos fumantes inalem quantidades de poluentes iguais às que estão mais próximas. A fumaça que sai da ponta do cigarro contém cerca de 400 substâncias em quantidades comparáveis a que o fumante inala, e algumas em  concentrações mais elevadas. Em média, nessa fumaça podem ser encontrados três vezes mais monóxido de carbono e nicotina e até cinqüenta vezes mais substâncias cancerígenas, do que na fumaça tragada pelo fumante. Dessa forma, os fumantes passivos sofrem os efeitos imediatos da poluição ambiental tais como irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, cefaléia, aumento dos problemas alérgicos, principalmente das vias respiratórias. Quando comparados com não fumantes não expostos a poluição 
tabagística ambiental os fumantes passivos tem um risco 30% maior de câncer de pulmão e 24% para doenças cardíaca à longo prazo ( IARC, 1987).
Inúmeras pesquisas mostram que quanto maior o número de fumantes no domicílio, maior o percentual de infecções respiratórias entre crianças chegando a ser 50% maior entre crianças que convivem com mais de dois fumantes em casa, do que aquelas que não convivem com fumantes.
Benefícios em parar de fumar
 Fumantes que param, vivem mais e melhor;
 Melhora a capacidade pulmonar;
 Após 1 ano sem fumar, o risco cardíaco cai 50%, após 15 anos o risco é igual ao do não fumante;
 O risco de câncer de boca cai 50% após 5 anos;
 Quem parar entre os 35 e 39 anos, adiciona 5 anos de vida;
 Após 10 anos sem fumar, os riscos de câncer caem 50%;
 Após 15 anos, os riscos de morrer são iguais aos do não fumante.
Se parar de fumar agora...
• após 20 minutos sua pressão sangüínea e a pulsação voltam ao normal;
• após 2 horas não tem mais nicotina no seu sangue;
• após 8 horas o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
• após 2 dias seu olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar já degusta a comida melhor;
• após 3 semanas a respiração fica mais fácil e a circulação melhora;
• após 5 a 10 anos o risco de sofrer infarto será igual ao de quem nunca fumou.
Escolha um método para deixar de fumar.
Um estudo realizado pelo Grupo de Apoio ao Tabagista (GAT) do Hospital do Câncer A. C. Camargo, em São Paulo, feito com 6 mil pacientes em tratamento, concluiu que em cerca de 50% dos casos, entre homens e mulheres, a dependência do cigarro é exclusivamente psicológica. Apenas 20% dos pacientes apresentaram dependência grave de nicotina e 30% são dependentes leves ou moderados da substância. Portanto, escolha um método e pare de fumar.
Parada Imediata Você marca uma data e nesse dia não fumará mais nenhum cigarro. Esta deve ser sempre sua primeira opção.
Parada Gradual
Você pode utilizar este método de duas formas:
Reduzindo o número de cigarros.
Por exemplo: Um fumante de 30 cigarros por dia, no primeiro dia fuma os 30 cigarros usuais,
no segundo - 25
no terceiro - 20
no quarto - 15
no quinto - 10
no sexto – 5
O sétimo dia seria a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.
Retardando a hora do primeiro cigarro
Por exemplo: no primeiro dia você começa a fumar às 9 horas,
no segundo às 11 horas,
no terceiro às 13 horas,
no quarto às 15 horas,
no quinto às 17 horas,
no sexto às 19 horas,
No sétimo dia seria a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarrosA estratégia gradual não deve gastar mais de duas semanas para ser colocada em prática, pois pode se tornar uma forma de adiar e não de parar de fumar. O mais importante é marcar uma data-alvo para que seja seu primeiro dia de ex-fumante. Lembre-se também que fumar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Todos os tipos de derivados do tabaco (cigarros,charutos, cachimbos, cigarros de Bali, etc) fazem mal à saúde.
Sentindo vontade de fumar
A vontade de fumar não dura mais que alguns minutos. Nesses momentos, para ajudar, você poderá chupar gelo, escovar os dentes a toda hora, beber água gelada ou comer uma fruta. Mantenha as mãos ocupadas com um elástico, pedaço de papel, rabisque alguma coisa ou manuseie objetos pequenos. Não fique parado - converse com um amigo, faça algo diferente que distraia sua atenção.
Proteja-se ... após parar de fumar uma simples tragada pode levar você a uma recaída. Evite o primeiro cigarro e você estará evitando todos os outros!
Caso não consiga parar de fumar sozinho, procure orientação médica.
Cuidado com os métodos milagrosos para deixar de fumar.
Tratamento
A abordagem cognitivo-comportamental é o eixo do tratamento e é um modelo de intervenção centrado na mudança de crenças e comportamentos que levam um indivíduo a lidar com uma determinada situação. Na dependência do tabaco, o indivíduo não “se submete” ao tratamento, participa do processo.
Deixar de fumar é o primeiro passo, o segundo é manter a abstinência. O que possibilita o alcance dessas metas é a mudança de comportamento.
O apoio medicamentoso (Bupropiona e Terapia de Reposição de Nicotina com adesivo transdérmico ou goma de mascar) pode complementar a abordagem cognitivo-comportamental em casos específicos, com o objetivo de minimizar os sintomas da síndrome de abstinência e facilitar a abordagem cognitivo-comportamental.
Algumas Secretarias Municipais de Saúde aderiram ao Programa Nacional de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer e contam com equipe capacitada e especializada no tratamento do tabagismo.
Também existem algumas ONGs e grupos de ajuda-mútua que podem apoiá-lo na iniciativa de parar de fumar.
Você sabia?
➢ Que a fumaça do cigarro reúne, aproximadamente, 4,7 mil substâncias tóxicas diferentes e muitas delas são cancerígenas?
➢ Que o tabagismo está ligado a 50 tipos de doenças como câncer de pulmão, de boca e de faringe, além de problemas cardíacos?
➢ Que, no Brasil, 23 pessoas morrem por hora em virtude de doenças ligadas ao tabagismo?
➢ Que crianças com sete anos de idade nascidas de mães que fumaram 10 ou mais cigarros por dia durante a gestação apresentam atraso no aprendizado quando comparadas a outras crianças?
➢ Que várias Secretarias Municipais de Saúde oferecem Programa de Tratamento para Tabagistas?
O Decreto nº 2.018 / 1996 que regulamenta a Lei 9.294 do mesmo ano determina que nas repartições públicas federais somente será permitido fumar se houver áreas ao ar livre ou recinto destinado unicamente ao uso de produtos fumígenos.

Fonte: www.inca.gov.br/tabagismo
Pare de fumar Disque saúde: 0800 61 1997 -
Ligação gratuita com atendimento para todo o Brasil ao fumante e familiares.

Acesse: www.inca.gov.br/tabagismo - Passo a passo para deixar de fumar