sábado, 31 de janeiro de 2015

LUÍZA DE MARILAC- EXPRESSÃO DO AMOR AO PRÓXIMO


        Co-fundadora da Congregação Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo.
    Luiza de Marillac nasceu em Paris a 12 de agosto de 1591. Muito jovem ainda, teve o pesar de perder a mãe. O pai, Luiz de Marillac, senhor de Ferrières, proporcionou-lhe uma educação esmeradíssima e eminentemente cristã, que a preparou para a sua missão providencial.
     Já se havia dedicado à prática de uma vida toda de caridade, quando um dia lhe escreveu São Vicente de Paulo, ao saber que ela visitara em Paris, uma pessoa atacada da peste: "Nada receieis, Madmoiselle, Deus quis servir-se de vós para alguma coisa que visa a sua glória e estou certo de que ele vos conservará para este fim". Visivelmente se realizaram estas palavras proféticas, pelo posterior desenvolvimento grandioso da Congregação das Irmãs da Caridade, hoje conhecida em todas as partes do mundo.
    Em 1613 contraiu matrimônio com Antônio le Gras, secretário da rainha Maria de Médici. Deus deu ao piedoso casal um filho que, pelas suas virtudes, mostrou-se digno dos progenitores. Em 1625 a morte lhe arrebatou o esposo. Com coração e resignação cristã, sofreu este duro golpe, procurando alívio e consolo em Deus, a quem se consagrou inteiramente. Para oferecer a Deus um sacrifício mais perfeito e assim garantir a salvação de sua alma, decidiu dedicar-se inteiramente às obras de caridade, decisão que teve o pleno consentimento do bispo de Belley, seu confessor.     Não podendo ele permanecer por muito tempo em Paris, confiou-a à direção de São Vicente de Paulo, sobre a pessoa do qual recebera ótimas informações de São Francisco de Sales.
    Nas paróquias onde São Vicente de Paulo ou seus missionários pregavam as missões, fundavam confrarias de caridade, que se recrutavam de piedosas senhoras, cujo intuito era socorrer os pobres enfermos. São Vicente, vendo que era necessário dar a este movimento uma organização bem orientada, confiou a Luiza de Marillac a missão de inspetora.
      A piedosa senhora não só aceitou esta incumbência, mas dedicou-se à obra com um zelo admirabilíssimo. Os frutos deste trabalho não tardaram a aparecer. A humildade e dedicação da inspetora abriram-lhe os corações, e raros foram os casos de uma ou outra paróquia não querer aceitar-lhe a benéfica colaboração. Em muitos lugares, sua chegada foi festejada com grandes manifestações de regozijo. No desempenho de sua missão, na nobre propaganda da caridade, se deixou guiar pelo genial apóstolo que era seu confessor.
    Embora fosse grande o desejo de ambos de verem as confrarias fundadas e prósperas todas as paróquias, nada faziam, se o pároco se mostrava contrário às suas idéias. "Cedei, escreveu São Vicente a Luiza num caso, em que o pároco se opôs à fundação da confraria - "Cedei; um só ato de submissão é como um belo diamante, que vale mais que uma montanha de pedras, isto é, de atos inspirados pela própria vontade".
    Nas visitas que fazia às paróquias, Luiza bem depressa teve de convencer-se da dificuldade, se não da impossibilidade, de acostumar as senhoras, principalmente as da alta sociedade, no serviço de dama de caridade. Cada vez mais clara lhe surgiu diante do espírito a idéia de fundar uma Congregação religiosa que, com mais ordem, dedicação e independência, pudesse tomar a seu cargo a obra de caridade, como idealizava. Não faltaram elementos utilíssimos para realizar o plano. Em 1633, estava já formada uma pequena comunidade, composta apenas de quatro irmãs, com Luiza como superiora. Na festa da Anunciação da Santíssima Virgem, do ano de 1634, se consagraram por um voto ao serviço dos pobres e doentes. Esta data tão significativa e até hoje de grande importância na Congregação das Irmãs de Caridade, sendo neste dia, se renovam todos os anos, os votos que as ligam a Deus e aos infelizes.
     Admirável foi a atividade de Luiza de Marillac. Quem a conhecia, vendo-lhe o estado de saúde tão precário, não podia compreender como lhe era possível dedicar-se a uma obra tão trabalhosa. O próprio São Vicente de Paulo chegou à dizer às Irmãs, que os últimos vinte anos da vida da Superiora, era um verdadeiro milagre.
Quando em 1652 Paris foi visitada pela peste, Luiza de Marillac socorreu a 14.000 pessoas e suas filhas distribuÍram aos pobres o necessário sustento. Outras iam aos subúrbios tratar dos doentes.
    A pedido da rainha Maria Gonzaga, a Congregação estabeleceu-se na Polônia.
Inspirada pela caridade, procurava comunicar o mesmo espírito às suas filhas espirituais. Numa antiga crônica da Congregação se lê o seguinte tópico: " Madame tinha tanto respeito e devoção para com os pobres que, desde o início do estabelecimento de caridade, recomendou às suas filhas que os servisse com grande caridade e humildade, considerando-os como seus senhores e amos; por isso, queria que se lhes destinasse o "primeiro pedaço de pão que se cortava para o almoço, e primeira ração de caldo que se servia para o jantar". Ela mesma punha mãos à obra. Servindo os doentes, lavando-lhes os pés, pensando-lhes as chagas e tratando-os com todo o carinho. Na visita às aldeias, ela própria lecionava, para instruir as professoras que ali constituía.
       Em 1660, Luiza de Marillac sentiu que sua vida aqui na terra ia findar-se. A suprema consolação, que desde longos anos pedia a Deus, era de ser assistida no derradeiro momento pelo pai e guia de sua alma, Vicente de Paulo.  Vicente de Paulo, de 85 anos, também prestes a deixar este mundo, só pode enviar-lhe a bênção e as seguintes palavras: "Madame, ides antes de mim; espero em breve, rever-nos no Céu". Ela recebeu a Comunhão das mãos do vigário de Saint-Laurent, que a acompanhava no seu trânsito. Este, mais uma vez, lhe pediu que abençoasse as suas filhas. Ela aquiesceu: "Queridas irmãs, disse-lhes ela, (resumindo nesse momento solene, o que havia sido sempre a paixão de sua vida e o desejo supremo de seu coração), continuo a pedir a sua bênção para vós, e a graça de perseverardes na vossa vocação, a fim de servi-lo de maneira que ele deseja de vós: Cuidai bastante do serviço dos pobres e sobretudo, vivei em grande união e cordialidade, amando-vos umas às outras a fim de imitardes a união e vida de Nosso Senhor, e rogai com fervor à Santíssima Virgem, para que ela seja vossa única Mãe". Acrescentou que morria, tendo em grande estima a vocação delas e que, se vivesse cem anos, não lhes pediria outra coisa que uma absoluta fidelidade a esta santa vocação.
    Um padre da Missão ocupava-lhe à cabeceira, o lugar de Vicente de Paulo, não a deixando um instante. Desencarnou em 15 de março de 1660.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

# Populações vulneráveis



 Na sociedade contemporânea, excludente, altamente tecnológica, competitiva, o que vemos é a diminuição do trabalho como fator de inserção social, e o que observa-se são os níveis de renda que definem agora os fatores das diferenças sociais.
  Aqueles que recebem um valor abaixo do estabelecido como considerável são denominados de pobres, e em escalas descendentes classificam-se os miseráveis ou indigentes. 
   Para CASTEL (1997), não se trata de uma crise pontual, mas de um processo de desestabilização da condição salarial. A vulnerabilidade das massas e, de forma mais aguda, a exclusão social de grupos específicos são resultados da desagregação progressiva das proteções ligadas ao mundo do trabalho. Consistem em processos de “desfiliação”, ou da fragilização dos suportes de sociabilidade. 
   CASTEL (1998) caracteriza a questão social por “uma inquietação quanto à capacidade de manter a coesão de uma sociedade. A ameaça de ruptura é apresentada por grupos cuja existência abala a coesão do conjunto”
  O conflito social remete-se a um movimento social efetivado em organizações ou grupos sociais específicos, realizando uma ação particular (greve, ocupação, interrupção de via, etc.) em espaço determinado, em contraposição a outros agentes sociais.
  Para EDER SADER (1988) estes movimentos produzem rupturas e ajuntamentos de classes, onde os contornos classistas se diluem, mas ainda assim existem como agentes transformadores da ordem social. Conclui-se que todo movimento social pode gerar conflitos sociais, mas nem todos os conflitos são movimentos sociais organizados.
  A noção de território vulnerável ganha um sentido mais concreto, na medida em que falamos de lugares concentradores de condições sociais sistematicamente reprodutoras das desigualdades e da pobreza, pois nele prevalecem condições desfavoráveis ao acesso e uso de recursos.
   Os lugares vulneráveis são aqueles, nos quais os indivíduos enfrentam riscos e a impossibilidade de acesso a condições habitacionais, sanitárias, educacionais e trabalho e de participação e acesso diferencial a informação e as oportunidades. A cidade sempre foi palco do crescimento e da inovação tecnológica e atraente para aqueles que buscam melhorar sua condição social, já que neste espaço os serviços estão em maior quantidade e a lei da oferta e procura cresce nas cidades.
    As populações vulneráveis principalmente nos centros urbanos, diga-se população pobre e com relações precarizadas de trabalho, têm dificuldades para acumular capital social, seja: individual, coletivo ou cívico, esta dificuldade é expressa em níveis de qualidade de vida inferiores. Este contingente populacional é isolado das correntes predominantes da sociedade, pois, seus laços com a sociedade estão “esgaçados”, quer seja pelo mercado de trabalho, pela sua localização no espaço geográfico ou ainda por uma baixa escolarização.
  O conceito de vulnerabilidade ao tratar da insegurança, incerteza e exposição a riscos provocados por eventos socioeconômicos ou ao não-acesso a insumos estratégicos apresenta uma visão integral sobre as condições de vida dos pobres, ao mesmo tempo em que considera a disponibilidade de recursos e estratégias para que estes indivíduos enfrentem as dificuldades que lhes afetam .
  A mundialização ou globalização interliga o mundo, aproxima territorialmente, e culturalmente, mas exclui aqueles que não podem se capacitar, que não são competitivos, ou melhor, que não tiveram oportunidades de ingressar no processo produtivo da sociedade, colocando-se assim, a margem,  muitos ficando no limbo dos iletrados, até que uma ação facilitadora possa tirá-los desta situação de não pertencimento e começar o caminho para a inclusão social e construção de sua cidadania.
  
"A pobreza e a vulnerabilidade estão ligadas, são multidimensionais e, por vezes, reforçam-se mutuamente. Mas não são sinônimos. 
Enquanto a vulnerabilidade constitui geralmente um aspeto importante da pobreza, ser rico não significa não ser vulnerável.
 Tanto a pobreza como a vulnerabilidade são dinâmicas.
 Os ricos podem não ser vulneráveis sempre, ou por toda a vida, tal como alguns pobres podem não permanecer sempre pobres.
 Contudo, os pobres são inerentemente vulneráveis porque (…) Sofrem muitas privações. Não só carecem de bens materiais adequados, como também tendem a ter uma educação e uma saúde insuficientes e a sofrer deficiências noutras áreas.
 Da mesma forma, o seu acesso aos sistemas de justiça pode ser limitado.”


Jane

domingo, 4 de janeiro de 2015

#Bancos nos jardins. Poesia


Encontros, oportunidades se perdem ?
Ou será que são adiados ?
Tomar um café, ler um jornal, encontrar um amigo, fazer uma visita..
 Enviar um e-mail, lembrar  aniversário de amigos, beijar o filho, levar o cachorro para vacinar...
Sentar num banco  e encantar-se com a paisagem  nova.
Registrar a luz que passa com o vento  gelado no  rosto em ângulos fotográficos
Enquanto no banco penso na oportunidade de estar viva.

O silêncio  se ocultou em algum espaço perdido em todos os bancos que via .
Sempre um vulto parecia estar ali.
Sempre em um banco qualquer, ou qualquer jardim.

Barcos, rios, reflexos, luzes, cores, tantas percepções e tantos  bancos vazios.

Jane








sábado, 3 de janeiro de 2015

Construção criativa com caixa de areia em Arteterapia.

      
            A caixa de areia é um recurso em arteterapia que nos revela e nos surpreende  com os conteúdos até então velados no nosso inconsciente.
         Quanto mais nossas emoções e nossos, sentimentos estão escondidos dentro de nós, tão mais profundamente nossas lembranças estão mergulhadas no inconsciente. 
   Não temos palavras mas possibilidades de expressão. As mãos tem poderes inimagináveis, pois formam uma ponte entre nosso mundo interno e externo. Com as mãos podemos fazer carinho, trabalhar, construir, transformar e criar. Elas são mediadoras entre espírito e matéria, entre imaginação interna e criação concreta. Pela ação das mãos as energias existentes se tornam visíveis.
         No método terapêutico do Jogo de Areia, através da criação com as mãos, as forças que atuam nas profundezas da alma se tornam visíveis e reconhecíveis, e que através das mãos o interior e o exterior, o espírito e a matéria se unem.
         No Jogo de Areia predomina-se a ação, o analisando cria seu mundo particular, com areia molhada ou seca, e muitas pequenas figuras que estão á sua disposição, no momento quando ele está internamente constelado naquele momento.
         O analista é o observador, faz um esquema da imagem da areia e tira uma fotografia no final.  Pede que o analisando conte o que lhe vem á mente, o que mexeu com ele ou o abalou durante o processo de construção da cena na caixa de areia. Aí ele atua emocionalmente até o próximo encontro, quando novamente cria uma imagem. A imagem na areia será desfeita pelo analista depois da sessão, pois não deve permanecer no mundo externo. 
         A arte do analista consiste em reconhecer o que acontece nessa fase da terapia, o que se passa com o analisando, em proteger e apoiar o processo, em interferir na emergência, mas principalmente em comentar apenas o suficiente a fim de que o processo do analisando possa se desenvolver.
         Existem dois tipos de processos fundamentalmente  distintos: o processo curativo e o processo de transformação da visão pessoal do mundo.
         O processo curativo atua em pacientes que sofrem de distúrbios ou feridas psíquicas que se formaram já antes do nascimento ou na primeira infância, que os impossibilita de crescer com saudável confiança no mundo e no seu próprio processo de vida. Nesses casos o processo terapêutico leva às camadas vivenciais profundas da primeira infância, não acessíveis ao consciente e á verbalização. A energia psíquica retorna ao núcleo saudável da alma, sobre a qual a reconstrução da personalidade é possível.
         O processo transformador acontece de forma diferente, trata de pessoas que a princípio têm base de vida saudável e Eu estável, mas cuja visão do mundo é  estreita e unilateral demais, ou se tornou doentia. Elas percebem que algo dentro delas não está em ordem, são irriquietas, desanimadas ou até depressivas. Algumas sentem claramente que se realizam transformação ou que será necessário ampliação da consciência e entram  conscientemente no processo, sem serem levadas pelo seu sofrimento inconsciente. Essas transformações psíquicas pressupõem consciência do Eu saudável e autovalorização, formando degraus no processo de Individuação do ser humano.
        No Jogo de Areia o processo de transformação integral, que inclui psique e corpo, desenvolve-se através da construção criativa com as mãos, de modo principalmente não verbal, e somente após sua conclusão será interpretado verbalmente, conforme os conceitos da psicologia analítica.
         O analista se concentra totalmente no processo de seu analisando, transmitindo-lhe sua confiança no processo autocurativo da psique através daquilo que ele, analista, é, e não através daquilo que fala. Tais períodos silenciosos numa sessão de terapia, onde nada se conversa, são extremamente belos e valiosos.
         Na fase seguinte, o analista assume o lugar de parceiro de discussão, que ajuda o analisando a reconhecer, ordenar e interpretar, tudo com o objetivo de ligar a mensagem das imagens com a experiência do analisando.
         O meio ambiente criado pelo homem e pela natureza repercute na alma. É troca constante dentro e fora, entre psique e meio ambiente.
         A observação cuidadosa do mundo , de sua essência e de seu crescimento, propicia o reconhecimento de ordem e legitimidade, segurança e orientação.
Existe uma troca constante do mundo material e do espiritual. A negligência de um produz carência no outro e a dedicação cuidadosa a um produz o enriquecimento do outro.
         Um cenário de areia também é uma espécie de jardim da alma, onde o dentro e o fora se encontram. Nele uma pessoa pode observar e aprender a reciprocidade entre mundo interno e mundo externo, dentro de um espaço protegido.
         Em sentido figurativo devemos imaginar a Caixa de Areia como o vaso alquímico no qual se realiza a transformação da substância psíquica. É o espaço protegido, como um útero materno, onde será possível transformação completa e renascimento. Essa renovação se configura através do poder curativo e transformador da imaginação.

 Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma compreensão sobre nós mesmos." 
                                                                 
Carl  Jung     

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

# Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas" #

Canto dos Espíritos sobre as Águas 
A alma do homem
É como a água:
Do céu vem,
Ao céu sobe,
E de novo tem
Que descer à terra,
Em mudança eterna.

Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
Então em belo
Pó de ondas de névoa
Desce à rocha liza,
E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmúrio,
Lá para as profundas.

Erguem-se penhascos
De encontro à queda,
— Vai, espumando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.

No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.

Vento é da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas espumantes.

Alma do Homem,
És bem como a água!
Destino do homem,
És bem como o vento!

Feliz Só Será

Feliz só será
A alma que amar.
Estar alegre
E triste,
Perder-se a pensar,
Desejar
E recear
Suspensa em penar,
Saltar de prazer,
De aflição morrer —
Feliz só será

A alma que amar.
  Goethe
Nascimento: 28 de Agosto de 1749

Morte: 22 de Março de 1832    (82 anos)

Biografia: Johann Wolfgang von Goethe foi um escritor alemão e pensador que também fez incursões pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX. Juntamente com Friedrich Schiller foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão Sturm und Drang.