sábado, 3 de janeiro de 2015

Construção criativa com caixa de areia em Arteterapia.

      
            A caixa de areia é um recurso em arteterapia que nos revela e nos surpreende  com os conteúdos até então velados no nosso inconsciente.
         Quanto mais nossas emoções e nossos, sentimentos estão escondidos dentro de nós, tão mais profundamente nossas lembranças estão mergulhadas no inconsciente. 
   Não temos palavras mas possibilidades de expressão. As mãos tem poderes inimagináveis, pois formam uma ponte entre nosso mundo interno e externo. Com as mãos podemos fazer carinho, trabalhar, construir, transformar e criar. Elas são mediadoras entre espírito e matéria, entre imaginação interna e criação concreta. Pela ação das mãos as energias existentes se tornam visíveis.
         No método terapêutico do Jogo de Areia, através da criação com as mãos, as forças que atuam nas profundezas da alma se tornam visíveis e reconhecíveis, e que através das mãos o interior e o exterior, o espírito e a matéria se unem.
         No Jogo de Areia predomina-se a ação, o analisando cria seu mundo particular, com areia molhada ou seca, e muitas pequenas figuras que estão á sua disposição, no momento quando ele está internamente constelado naquele momento.
         O analista é o observador, faz um esquema da imagem da areia e tira uma fotografia no final.  Pede que o analisando conte o que lhe vem á mente, o que mexeu com ele ou o abalou durante o processo de construção da cena na caixa de areia. Aí ele atua emocionalmente até o próximo encontro, quando novamente cria uma imagem. A imagem na areia será desfeita pelo analista depois da sessão, pois não deve permanecer no mundo externo. 
         A arte do analista consiste em reconhecer o que acontece nessa fase da terapia, o que se passa com o analisando, em proteger e apoiar o processo, em interferir na emergência, mas principalmente em comentar apenas o suficiente a fim de que o processo do analisando possa se desenvolver.
         Existem dois tipos de processos fundamentalmente  distintos: o processo curativo e o processo de transformação da visão pessoal do mundo.
         O processo curativo atua em pacientes que sofrem de distúrbios ou feridas psíquicas que se formaram já antes do nascimento ou na primeira infância, que os impossibilita de crescer com saudável confiança no mundo e no seu próprio processo de vida. Nesses casos o processo terapêutico leva às camadas vivenciais profundas da primeira infância, não acessíveis ao consciente e á verbalização. A energia psíquica retorna ao núcleo saudável da alma, sobre a qual a reconstrução da personalidade é possível.
         O processo transformador acontece de forma diferente, trata de pessoas que a princípio têm base de vida saudável e Eu estável, mas cuja visão do mundo é  estreita e unilateral demais, ou se tornou doentia. Elas percebem que algo dentro delas não está em ordem, são irriquietas, desanimadas ou até depressivas. Algumas sentem claramente que se realizam transformação ou que será necessário ampliação da consciência e entram  conscientemente no processo, sem serem levadas pelo seu sofrimento inconsciente. Essas transformações psíquicas pressupõem consciência do Eu saudável e autovalorização, formando degraus no processo de Individuação do ser humano.
        No Jogo de Areia o processo de transformação integral, que inclui psique e corpo, desenvolve-se através da construção criativa com as mãos, de modo principalmente não verbal, e somente após sua conclusão será interpretado verbalmente, conforme os conceitos da psicologia analítica.
         O analista se concentra totalmente no processo de seu analisando, transmitindo-lhe sua confiança no processo autocurativo da psique através daquilo que ele, analista, é, e não através daquilo que fala. Tais períodos silenciosos numa sessão de terapia, onde nada se conversa, são extremamente belos e valiosos.
         Na fase seguinte, o analista assume o lugar de parceiro de discussão, que ajuda o analisando a reconhecer, ordenar e interpretar, tudo com o objetivo de ligar a mensagem das imagens com a experiência do analisando.
         O meio ambiente criado pelo homem e pela natureza repercute na alma. É troca constante dentro e fora, entre psique e meio ambiente.
         A observação cuidadosa do mundo , de sua essência e de seu crescimento, propicia o reconhecimento de ordem e legitimidade, segurança e orientação.
Existe uma troca constante do mundo material e do espiritual. A negligência de um produz carência no outro e a dedicação cuidadosa a um produz o enriquecimento do outro.
         Um cenário de areia também é uma espécie de jardim da alma, onde o dentro e o fora se encontram. Nele uma pessoa pode observar e aprender a reciprocidade entre mundo interno e mundo externo, dentro de um espaço protegido.
         Em sentido figurativo devemos imaginar a Caixa de Areia como o vaso alquímico no qual se realiza a transformação da substância psíquica. É o espaço protegido, como um útero materno, onde será possível transformação completa e renascimento. Essa renovação se configura através do poder curativo e transformador da imaginação.

 Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma compreensão sobre nós mesmos." 
                                                                 
Carl  Jung     

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