quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

# FENOMENOLOGIA -Edmund Husserl - Parte I

 

    Gosto muito do pensar fenomenológico. Este pequeno recorte de  texto faz parte de minha tese de Mestrado.  

       Principalmente porque Husserl vai na contramão  na época  que via a verdade  e a neutralidade como caminhos para a ciência. Seu posicionamento de propor uma fenomenologia transcendental, como princípio da intencionalidade da consciência, em busca de sentidos possíveis, abre o olhar  rompendo a visão positivista.

   Pode-se ressaltar, porém, que a contribuição de  Edmund Husserl  é  propor uma fenomenologia transcendental.

   O conceito  e formação metodológica do método da fenomenologia  torna-se compreensível e aprofundado  a partir  do filósofo Edmund Husserl (1859-1938), que também trabalhava como matemático, cientista, pesquisador e professor das faculdades de Göttingen e Freiburg im Breisgau, na Alemanha.

    Ele elabora  uma crítica à filosofia positivista e ao método experimental, percebidos como um objetivismo científico; ao mesmo tempo, faz uma proposta endereçada à formulação de uma perspectiva racional nova, radicalmente humana , a filosofia como ciência das vivências intencionais.

     Husserl, define a fenomenologia como uma ciência rigorosa, que se inicia pela descrição do vivido. Ela busca a descrição dos atos intencionais da consciência , e dos objetos por ela visados, ou seja, pela análise noético-noemática.

    A fenomenologia prossegue no reconhecimento de que estes atos são de um eu que pensa o mundo, e que seu estudo compõe o conjunto de análise sobre o ego transcendental, ou o eu puro, distinto, pois do eu empírico ou natural estudado pela psicologia.

   Mas o que é um fenômeno para Husserl? É aquilo que surge para uma consciência, o que se manifesta para essa consciência, como resultado de uma interrogação. Do grego "phainomenon" significa discurso esclarecedor a respeito daquilo que se mostra para o sujeito interrogador. Do verbo "phainesthai" como mostrar-se, desvelar-se. Fenômeno é, então, tudo o que se mostra, se manifesta, se desvela ao sujeito que o interroga.

    A fenomenologia quando segue esta linha de pensamento, voltada não só para as questões lógicas, mas também para as questões existenciais, transcendentais e intuitivas do homem, corta assim, o elo com o racionalismo dogmático.

   Segundo Creuza Capalbo, " a fenomenologia nos convida a deixar as coisas aparecerem com as características que se dão na transparência, isto é, deixando que as essências se manifestem na transparência do fenômeno."

     Ela,  é pois, esta possibilidade de investigar o homem em seu mundo vivido, no seu plano transcendental, em sua cotidianeidade, em sua consciência atuante, em sua intencionalidade, em sua subjetividade e intersubjetividade, enfim, o homem  é visto em seu aspecto ontológico.

   Surge  então em decorrência da necessidade de se repensar o mundo e o homem como um processo de unidade e não como um processo dividido. O seu objetivo é pois, aproximar o homem sucessivamente dos fenômenos que aí estão e desvendá-los, formando assim, no indivíduo a sua consciência identificadora-crítica-reflexiva.

    A fenomenologia procura não  se limitar aos fenômenos, fechando a consciência em seus próprios estados, mas de tratar o que nos aparece a consciência como fato universal. Ela renuncia o que nos aparece a consciência como fato universal. Ela renuncia o absoluto e procura nos fenômenos a vida de acesso ao ser e procura a racionalidade na sua própria contingência ontológica.

    A visão fenomenológica vai além desta relação significado/significante utilizada na linguística clássica, ela nos possibilita refletir sobre a nossa experiência do vivido, não nos reduzindo simplesmente ao plano de nossa consciência, mas nos mostrando um horizonte que também lhe escapa, nos possibilitando uma constante crítica sobre a própria evidência do nosso cogito.

    Portanto, Fenomenologia é tudo o que se mostra ou se torna visível para a consciência em sua individualidade. Assim, tanto os objetos como os atos da consciência, sejam intelectivos, volitivos ou afetivos, são fenômenos, e o estudo ou a ciência dos fenômenos chama-se Fenomenologia, que se detém na análise do puramente vivido ou experimentado, nos significados e na percepção do ser humano.

    Sua preocupação  é de descrever o fenômeno e não de explicá-lo, não se preocupando com o buscar relações causais. A preocupação será no sentido de mostrar e não em demonstrar, e a descrição prevê ou supõe um rigor, pois, através da rigorosa descrição é que se pode chegar à essência do fenômeno. 

      A fenomenologia existencial é uma corrente filosófica que considera o ser-no-mundo e entende o sujeito como resultado de relações intersubjetivas. 

     Com a filosofia de Husserl  fica o legado destes conceitos e métodos  para a Psicologia representada por Michael Whertheimer (1880-1943) , torna-se o principal articulista da escola Gestalt, fazendo amplo uso de seus métodos.

    Assim como o Psiquiatra francês Karl Jasper (1883-1969), que também se apropriou da Fenomenologia de Husserl e Ludwig Binswanger (1881-1966), psiquiatra que fundamenta as bases fenomenológicas existenciais e  Medard Boss (1903-1990) Psiquiatra e psicanalista cria a DASEINANÁLISE - Daseinnanalyse, onde vai à análise do ser-aí (Dasein) , com a filosofia de Martin Heidegger (1889-1976). A visão desta linha de pensamento fenomenológico-existencial, não é só a visão da subjetividade, é também a experiência existencial que  deve ser  indissociável de seu mundo, do seu ser aqui e agora.

Jane

Husserl



sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

# A MENTE EM AÇÃO- JOANNA DE ÂNGELIS


"Mais graves que as viroses habituais são aquelas que têm procedência no psiquismo desvairado.

Por ser agente da vida organizada, a mente sadia propicia o desenvolvimento das micropartículas que sustentam com equilíbrio a organização somática, assim como, através de descargas vigorosas, bombardeia os seus centros de atividade, dando curso a desarmonias inumeráveis.

Mentes viciosas e pessimistas geram vírus que se alojam no núcleo das células, e as destruindo se espalham pela corrente sanguínea, dando surgimento a enfermidades soezes.

Além desta funesta realização, interferem na organização imunológica e, afetando-a, facultam a agressão de outros agentes destruidores, que desenvolvem síndromes cruéis e degenerativas.

Além dos vícios que entorpecem os sentimentos relevantes do homem, perturbando-lhe a existência, o tédio e o ciúme, a violência e a queixa, entre outros hábitos perniciosos, são responsáveis pela desestruturação física e emocional da criatura.

O tédio é resultado da ociosidade costumeira da mente acomodada e preguiçosa. Matriz de muitos infortúnios, responde por neuroses estranhas e depressivas, culminando com o suicídio injustificável e covarde. Entregue ao tédio, o paciente transfere responsabilidades e ações para os outros, deixam dose sucumbir na amargura, quando não se envenena pela revolta contra todos e tudo.

A mente, entregue ao ciúme, fomenta acontecimentos que gostaria se realizassem, afim de atormentar-se e atormentar, aprisionando ou perseguindo a sua vítima.
Por sua vez, desconecta os centros de equilíbrio, passando à condição de vapor dissolvente da confiança e do amor.

A violência é distúrbio emocional, que remanesce do primitivismo das origens, facultando o combustível do ódio, que se inflama em incêndio infeliz, a devorar o ser que o proporciona.

Quando isto não ocorre, dispara dardos certeiros nas usinas da emoção, que se destrambelha, gerando vírus perigosos que se instalam no organismo desarticulado e o vencem.

A queixa ressuma como desrespeito ao trabalho e aos valores alheios, sempre pronta a censurar e a fiscalizar os outros, lamentando-se, enquanto vapores tóxicos inutilizam os núcleos da ação, que se enferrujam e perdem a finalidade.

Há todo um complexo de hábitos mentais e vícios morais, prejudiciais, que agridem a vida e a desnaturam.
É indispensável que o homem se resolva por utilizar do admirável arsenal de recursos que possui, aplicando os valores edificantes a serviço da sua felicidade.

Vives consoante pensas e almejas. Consciente ou inconscientemente.
Conforme dirijas a mente, recolherás os resultados.
Possuis todos os recursos ao alcance da vontade.
Canalizando-a para o bem ou para o mal, fruirás saúde ou doença.
Tem em mente, no entanto, que o teu destino é programado pela tua mente e pelos teus atos, dependendo de ti a direção que lhe concedas."

Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos de Felicidade.  Joanna de Ângelis


segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

#NÓS FAZEMOS O MUNDO


   Vamos colorir 

"Nós Fazemos o mundo.
Não pense: 
Ninguém me entende... 
Ninguém me ama....
Todos me desprezam..
O mundo está contra mim,,,
O mundo está dentro de você mesmo. As pessoas e o mundo são a imagem que você faz delas.
Se estiver alegre, notará que parecem sorrir para você. Se triste que o evitam. Até a Natureza se lhe afigura hostil.
Não se deixe abater. Deus está esperando sua reação. Ponha em ação as forças que tem.
Deus colocou o mundo dentro de nós para que pudéssemos colori-lo com as próprias tintas."

Lourival Lopes

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

#DE OLHOS FECHADOS - Crônica de ARTUR DA TÁVOLA


     " Há centenas de situações na vida, momentos de espera, uma viagem, uma sesta, enfim, vários, em que podendo fechar os olhos, não o fazemos. E entretanto é uma maravilha.

  Aprendi por mim mesmo a ter dois comportamentos de olhos fechados. Um é o da meditação: deixo fluir o que me vem à mente, sem exercer qualquer controle racional ou pensamento dirigido. O que a mente fizer jorrar como uma fonte de água, é aceito sem censura. Nada de dirigir o pensamento para algo, um problema, uma recordação. A mente em seu fluir errático é que comanda. Às vezes o fluxo começa desordenado e caótico mas com uns dez minutos, tudo vai se ajeitando e a gente pode ou não até entrar no sono fisiológico. O descanso que se segue é inimaginável. No caso de entrar no sono fisiológico, isto é, dormir um pouco ou cochilar, basta um minuto de desligamento total para que um fluxo de energia nos invada, prazenteiro. Mas se não cochilar, tudo bem. O fato de os pensamentos dimanarem livremente tem um potencial enorme de descanso e pacificação. E muitas vezes sem que se tenha fechado os olhos com essa finalidade, aparece magicamente a solução para algo que inquietava ou espoca, naturalmente e sem esforço, uma boa idéia. É formidável.   

  O outro comportamento que aprendi por mim mesmo, de olhos fechados é o do transporte e da sintonia. Aqui, em vez de deixar o pensamento fluir venha como vier, eu cenarizo, sim, faço um cenário imaginário, fixo-o bem na memória, com detalhes, e ali entram coisas, lugares e pessoas reais, vivas ou mortas. Ou então busco uma sintonia com o que me parece ser uma corrente de sintonia proveniente de espíritos de muita luz. E faço, sim, algum esforço de concentração para entrar em sintonia com aquela vida, seja atual ou remota. Por exemplo: certa vez, entrei, numa suave manhã de outono em uma Igreja pequena que existe numa ladeira de Santa Tereza. Ninguém lá. A paz era tanta que jamais me esqueci do fato. Pois de olhos fechados volta e meia retorno à Igreja e lá coloco mentalmente quem desejo, rezamos juntos ou pura e simplesmente apreciamos a paz. Tento reter e ampliar a sensação lá sentida. Retenho. E amplio. E como nesta experiência, repito muitas outras de minha vida. Por exemplo: amei, emocionado, a cidade de Bruges, na Bélgica. Pois para lá me transporto mentalmente, levo quem quero, vivo ou morto e faço um certo esforço (relativo) de recordar ruas passagens, aquele rio, algumas árvores inesquecíveis, converso com as pessoas ou a pessoa a quem levei e ambos vibram em uníssono com um sentimento comum que é mais um assentimento que outra coisa.

   Cito esses poucos exemplos mas possuo dezenas de cenários para onde me transporto de olhos fechados e vivencio tão fortemente que ao voltar para este mundo real chego a sentir pena de interromper a viagem. Terrível é quando chega alguém e interrompe tudo falando comigo ou se sai para a pior das brincadeiras para quem medita: “Acorda, isso não é hora de dormir”. Outro campo maravilhoso para os olhos fechados é a música. Não duvidem. Ouvir música de olhos fechados, deixando o pensamento livre é uma das maiores felicidades da vida.

    E felicidade não é para quem quer. É para quem pode…"


Artur da Távola, o pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, foi um advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro. Faleceu em  9 de maio de 2008, Rio de Janeiro.
Achei essa crônica inspiradora, assim como o Artur  fazia, eu também tenho os meus lugares de transporte afetivo e sempre vou  para Berlin, passeio pelas ruas, parques, sento em cada banco de praça que vejo, admiro sua arquitetura, monumentos e lembro das pessoas que via pelo ônibus andando de bicicleta.  Sempre me lembro de uma jovem de bicicleta que sempre usava uma flor na cabeça, uma tiara acho. Do respeito ao trânsito .Chovendo, sem carro vir, os pedestres esperavam o sinal abrir.  Mas  lembro que certo dia,  uma pessoa resolveu furar essa regra e um senhor , já idoso, aguardava conosco o sinal abrir, falou em seu alemão incompreensível várias palavras , que pelo  seu tom  de voz deveria  ser algo bem censurável para aquele ato.

 Vejo sempre um casal  muito bonito, de uns 75 anos os dois, super atléticos, musculosos, chegando  de bicicleta com várias mochilas, acho que estavam mochilando pela Alemanha. Achei o máximo, acompanhei enquanto pude, todos os movimentos deles.  
Outro lugar que sempre visito é a praia de Atafona, em São João da Barra, RJ, as árvores casuarinas, o silêncio cortado pelas ondas fortes do mar, as dunas , o povo cortês.
 Lugares bons para ancorar o espírito, afinal  o pensamento é livre e reabastece-lo de lembranças positivas, afirmativas de afeto e amor nos transporta para o sonhar "acordada",  acessar memórias  projetadas em um  tempo criado por nós.
E quando desperta, as fotografias acendem o encanto, que se  transformam em transportes novamente.
Creio que cada um deve ter o seu refúgio  de paz,  de memórias afetivas , de conversar com elas. É tão reconfortante.
Jane