terça-feira, 5 de janeiro de 2021

#CONSCIÊNCIA DA GRATIDÃO

 


"À medida que a psique desenvolve a consciência, fazendo-a superar os níveis primitivos recheados pela sombra, mais facilmente adquire a capacidade da gratidão.


A sombra, que resulta dos fenômenos egoícos, havendo acumulado interesses inferiores, é a grande adversária do sentimento de gratulação. Na sua ânsia de aparentar aquilo que não conquistou, impedida pelos hábitos enfermiços, projeta os conflitos nas demais pessoas, sem a lucidez necessária para confiar e servir. Servindo-se dos outros, supõe que assim fazem todos os demais, ante a impossibilidade de alargar a generosidade, que lhe facultaria o amadurecimento psicológico para a saudável convivência social, para o desenvolvimento interior dos valores nobres do amor e da solidariedade.

A miopia emocional defluente do predomínio da sombra no comportamento do ser humano impede-o que veja a harmonia existente na vida.

As imperfeições morais que não foram modificadas pelo processo da sua diluição e substituição pelas conquistas éticas atormentam o ser, fazendo-o refratário, senão hostil a todos os movimentos libertários.

Não há no seu emocional, em conseqüência, nenhum espaço para o louvor, o júbilo, a gratidão.

Desse modo, os conflitos que se originaram em outras existências e tornaram-se parte significativa do ego predominam no indivíduo inseguro e sofredor, que se refugia na autocompaixão ou na vingança, de forma que chame a atenção, que receba compensação narcisista, aplauso, preservando sempre suspeitas infundadas quanto à validade do que lhe é oferecido, pela consciência de saber que não é merecedor de tais tributos...

Acumuladas e preservadas as sensações que se converteram em emoções de suspeita em de ira, de descontentamento e amargura, projetam-nas nas demais pessoas, por não acreditar em lealdade, amor e abnegação.

Se alguém é dedicado ao bem na comunidade, é tido como dissimulador, porque essa seria a sua atitude (da sombra).

Se outrem reparte alegria e constrói solidariedade, a inveja que se lhe encontra arquivada no inconsciente acha meios de denominá-lo como bajulador e pusilânime, pois que, por sua vez, não conseguiria desempenhar as mesmas tarefas com naturalidade. A ausência de maturidade afetiva isola o indivíduo na amargura e na autopunição.

Tudo quanto lhe constitui impedimento mascara e transfere para os outros, assumindo postura crítica impiedosa, puritanismo exagerado, buscando sempre desconsiderar os comportamentos louváveis do próximo que lhe inspiram antipatia.

Assim age porque a sua é uma consciência adormecida, não habituada aos vôos expressivos da fraternidade e da compreensão, que somente se harmonizando com o grupo no qual vive é que poderá apresentar-se plena.

Autoconscientizando-se da sua estrutura emocional mediante o discernimento do dever, o que significa amadurecer, conseguirá realizar o parto libertador do ego, dele retirando as suas mazelas, lapidando as crostas externas qual ocorre com o diamante bruto que oculta o brilho das estrelas que se encontram no seu interior.

Urge, pois, adotar nova conduta para se libertar das fixações perversas. Conseguindo despertar dos valores nobres, é inevitável a saída da sua individualidade para a convivência com a coletividade, onde mais se aprimorará, aprendendo a conquistar emoções superiores que o enriquecerão de alegria e de paz, deslumbrando-se ante as bênçãos da vida que adornam tudo, assimilando-as em vez de reclamando sempre, pela impossibilidade de percebê-las.

O ingrato, diante do seu atraso emocional, reclama de tudo, desde os fatores climatéricos aos humanos de relacionamentos, desde os orgânicos aos emocionais, sempre com a verruma da acusação ou da autojustificação assim como do mal-estar a que se agarra em seguro mecanismo de fuga da realidade.

Nos níveis nobres da consciência de si e da cósmica, a gratidão aureola-se de júbilos, e os sentimentos não mais permanecem adstritos ao eu, ao meu, ampliando-se ao nós, a mim e a você, a todos juntos.

A gratidão é a assinatura de deus colocada na Sua obra.

Quando se enraíza no sentimento humano logra proporcionar harmonia interna, liberação de conflitos, saúde emocional, por luzir como estrela na imensidão sideral...

Por extensão, aquele que se faz agradecido torna-se veículo do sublime autógrafo, assinalando a vida e a natureza com a presença dEle.

Quando o egoísta insensatamente aponta as tragédias do cotidiano, as aberrações que assolam a sociedade, somente observa o lado mau e negativo do mundo, está exumando os seus sentimentos inconscientes arquivados, vibrantes, sem a coragem de externá-los, de dar-lhes campo livre no consciente.

A paz de fora inicia-se no cerne de cada ser. Também assim é a gratidão. Ao invés do anseio de recebê-la, tornar-se-lhe o doador espontâneo e curar-se de todas as mazelas, ensejando harmonia generalizada.

A vida sem gratidão é estéril e vazia de significado existencial."



Autora: Joanna de Ângelis

 Livro: Psicologia da Gratidão

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

# Flor de Lótus- Poesia de Rabindranath Tagore

                                

                                          No dia em que a flor de lótus desabrochou

A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.


Rabindranath Tagore : Nasceu em 7 de maio de 1861 , Calcutá. Índia e faleceu aos 80 anos , em 07 de agosto de 1941, em Calcutá. Recebeu Nobel de Literatura em 1913.

Homem de espírito humanista e extremamente sensível !

Principais obras

Rabindranath Tagore e o  Mahatma Gandhi.
Contos e romances
  • Gora (1910)
  • Ghare-Baire (1916) [A Casa e o Mundo]
  • Yogayog (1929) [Contracorrentes]
Poesia
  • Manasi (1890) [O Ideal]
  • Sonar Tari (1894) [O Barco de Ouro]
  • Gitanjali (1910) [Ofertas de Música]
  • Raja (1910) [O Rei da Câmara Escura]
  • Dakghar (1912) [A Agência dos Correios]
  • Gitimalya (1914) [Grinalda de Canções]
  • Achalayatan (1912) [O Imóvel]
  • Gardener (1913) [O Jardineiro]
  • Balaka (1916) [O Voo dos Grous]
  • Fruit-Gathering (1916) [Colheita de Frutas]
  • The Fugitive (1921) [O Fugitivo]
  • Muktadhara (1922) [A Cachoeira]
  • Raktakaravi (1926) [Oleandros Vermelhos]




Nuvens vêm flutuando em minha vida, não mais para carregar chuva ou tempestade, mas para adicionar cor ao meu céu do por do sol.

— Verso 292, Aves Soltas, 1916