Era
uma vez um jovem que caminhava ao lado do seu Mestre. Ele perguntou :
- Mestre
como faço para não me aborrecer ?Algumas pessoas falam demais, outras são
ignorantes. Algumas são indiferentes, outras mentirosas...Sofro com as que me
caluniam...
-Viva
como as flores ! Advertiu o Mestre.
-Como
é viver como as flores ? Perguntou o discípulo.
-
Disse o Mestre : Repare nestas flores, apontou para os lírios que cresciam no
jardim. Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas.
Extraem do adubo malcheiroso
tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas.
Não é sábio
permitir que os vícios dos outros nos importunem.
Os defeitos deles são deles e
não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento.
Exercite, pois a
virtude de rejeitar todo mal que vem de fora...
Não deixe se contaminar por
tudo aquilo que o rodeia. Assim disse o Mestre você estará vivendo como as
flores !
Pensando nesta fábula e vendo a estrutura de nossa construção social, que entre muitas classificações foi chamada de
Hipermoderna (Lipovetsky) ou Modernidade líquida (Baumann) onde sua
característica principal está voltada para os excessos, para o fugaz, para o intenso, para o urgente, para a
velocidade da luz, que nos leva para ao efêmero, pois esta fluidez, não nos
permite exercitar o que há de mais precioso: o pensar, o refletir sobre o que
faço, o ócio criativo, e questionar sob quais valores
éticos minhas escolhas acontecem .
O novo, é nosso objeto de desejo. Mas
me pergunto : E as flores no meio do caminho, onde ficaram ? Como saber
rejeitar o mal que habita em mim e o mal que vem de fora ?Como resistir as vitrines, com suas flores artificiais ? E seus manequins de resina plástica,
vestidos no mais novo style?
Construímos
cada vez mais redes individualistas na ilusão que o confinamento a uma tela
virtual nos torne mais importantes, onde partilhamos com grande
compulsividade o que achamos ser a nossa vida, e cada “like” me dá a certeza
que SOU, e me pergunto: Será ?
E as flores do caminho que nos ajudarão o expandir nossa percepção de mundo, onde estão?
Penso, que de fato, o que queremos, é um amigo real, não precisa ser um guru, um
mestre, mas um simples companheiro de caminhada terrestre, para andar ao nosso
lado, para compartilhar nossos sentimentos e questionamentos reais a cerca de
nossas dores e emoções reais. Onde eles estão ? Qual sua opinião, seu tom de
voz, seu gestual, seu olhar, sua compaixão, sua amizade ?
Ficamos presos a ilusões das imagens de neon,
o que naturalmente nos levam como sujeitos
modernos a nos enquadrarmos na caixa institucionalizada da servidão do sistema consumista. Esta lógica vendida nos leva a um grau de extrema insatisfação existencial.
O
desencaixe, o remontar consciente destes conceitos, imperativos categóricos, na busca de sentido da existência, nos ajudará a enxergar nossa sombra e trazê-la a consciência na grande integração com nosso Ego, que nos tirará da cegueira institucionalizada.
O
que mais impede o nosso ego a vivência
do todo, senão o desconhecimento de nossa sombra
?
Jung,
nos diz que a confrontação da sombra
traz muita depressão e sofrimento, mas traz também uma vivência de paz e
integridade e plenitude difícil de ser ATINGIDA DE OUTRA FORMA.
Este
encontro dialético da sombra com nossa luz, é que nos faz encontrar a flor , e entender que o azedume da
terra não deve ser maior que a nossa possibilidade de deixar nosso perfume por
aí... E tentarmos viver como as flores .
Jane
Givanoite.