domingo, 15 de novembro de 2015

#Fábula Viver como as flores na modernidade líquida.


  Era uma vez um jovem que caminhava ao lado do seu Mestre. Ele perguntou : 
- Mestre como faço para não me aborrecer ?Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes, outras mentirosas...Sofro com as que me caluniam...
-Viva como as flores ! Advertiu o Mestre.
-Como é viver como as flores ? Perguntou o discípulo.
- Disse o Mestre : Repare nestas flores, apontou para os lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto são puras  e perfumadas. 
Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra  manche o frescor de suas pétalas.
 Não é sábio permitir que os vícios dos outros nos importunem. 
Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. 
Exercite, pois a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora... 
Não deixe se contaminar por tudo aquilo que o rodeia. Assim disse o Mestre você estará vivendo como as flores !

      Pensando nesta fábula e vendo a estrutura de nossa construção social, que entre muitas classificações foi chamada de Hipermoderna (Lipovetsky) ou Modernidade líquida (Baumann) onde sua característica principal está voltada para os excessos, para o fugaz,  para o intenso, para o urgente, para a velocidade da luz, que nos leva para ao efêmero, pois esta fluidez, não nos permite exercitar o que há de mais precioso: o pensar, o refletir sobre o que faço,  o ócio criativo, e  questionar sob quais valores éticos minhas escolhas acontecem .
     O novo, é nosso objeto de desejo. Mas me pergunto : E as flores no meio do caminho, onde ficaram ? Como saber rejeitar o mal que habita em mim e o mal que vem de fora ?Como resistir as vitrines, com suas flores artificiais ? E seus manequins de resina plástica, vestidos no mais novo style? 
   Construímos cada vez mais redes individualistas na ilusão que o confinamento a uma tela virtual nos torne mais importantes, onde partilhamos com grande compulsividade o que achamos ser a nossa vida, e cada “like” me dá a certeza que SOU, e me pergunto:  Será ? 
   E as flores do caminho  que nos ajudarão o expandir  nossa percepção de mundo, onde estão?
   Penso, que de fato, o que queremos,   é um amigo real, não precisa ser um guru, um mestre, mas um simples companheiro de caminhada terrestre, para andar ao nosso lado, para compartilhar nossos sentimentos e questionamentos reais a cerca de nossas dores e emoções reais. Onde eles estão ? Qual sua opinião, seu tom de voz, seu gestual, seu olhar, sua compaixão, sua amizade ?
    Ficamos presos a ilusões das imagens de neon, o que naturalmente nos levam como sujeitos modernos a nos enquadrarmos na caixa institucionalizada da servidão do sistema consumista.  Esta lógica vendida nos leva a um grau de  extrema insatisfação existencial. 
  O desencaixe, o remontar consciente destes conceitos, imperativos categóricos, na busca de sentido da existência, nos ajudará a enxergar nossa sombra e trazê-la a consciência na grande integração com nosso Ego, que nos tirará da cegueira institucionalizada.
   O que mais  impede o nosso ego a vivência do todo, senão o desconhecimento de  nossa sombra ?
  Jung, nos diz que a confrontação  da sombra traz muita depressão e sofrimento, mas traz também uma vivência de paz e integridade e plenitude difícil de ser ATINGIDA DE OUTRA FORMA.
   Este encontro dialético da sombra com nossa luz, é que nos faz encontrar a flor , e entender que o azedume da terra não deve ser maior que a nossa possibilidade de deixar nosso perfume por aí... E tentarmos viver como as flores .


Jane Givanoite.


Nenhum comentário:

Postar um comentário