Não houve país que escapasse da pandemia de coronavírus, assim como nenhum ficou à margem da explosão de agressões machistas que veio com a doença, um flagelo que se agravou em todo o mundo devido às restrições impostas pela covid-19.
A violência contra a
mulher é herança de um modelo construído historicamente, forjado pela instituição patriarcal.
Porém novos fluxos para diálogos vem se tornando permeáveis , ao discurso da intolerância e opressão na busca de uma equidade , ou seja, retidão , imparcialidade , ética e justiça sobre o humano, NÃO DIGO SOBRE O FEMININO, MAS O HUMANO, QUE ENVOLVE A NOSSA ESPÉCIE, que precisa revisitar valores éticos, estéticos, solidários, do bem do belo, que através de uma retomada a sua soberana razão, logos, perceba a necessidade de discussões em coletivos, movimentos sociais, grupos feministas, grupo de classes trabalhadoras, sindicatos, movimentos inter-religiosos, movimentos etnicos, onde a organização social civil e institucional se organizem para fazer circular tais ações reflexivas, que tratem a nossa civilização com o respeito que ela tem, mas insistem em não ver, ignorar, talvez seja a grande autossabotagem que estamos fazendo conosco contra a Mãe Terra, que vem agora, nos cobrar a conta.
A devolutiva dessas ações será a de
cobrar do Estado a promoção de políticas públicas que vejam a pluralidade das constituições familiares em seus vários arranjos e suas necessidades.
Herdamos todas as forças de opressão e conseguimos, consolidar, construir e infelizmente reproduzir, quais sejam os preconceitos de raça, categorias de gêneros
, e suas relações de poder, onde nossas crenças e ideologias "fecharam as portas
ao diálogo" e ao desenvolvimento do processo civilizatório, que sempre nos convida
a ver nossa humanidade, nos sinalizando sempre que verdadeiramente
somos filhos da mãe TERRA, logo somos
todos iguais. Foi preciso que números alarmantes de violência contra a mulher surgissem na pandêmia covid-19, para reacender a chama do diálogo. Desvelar o que já estava exposto, mas invisível , tamponado às estatísticas e ao poder público.
Mas parece que a modernidade líquida se apossou de nosso ego, nos tornando seres mais apegados, consumistas, opressores e naturalmente menos questionadores e solidários. Somos seres de relação, interdependentes, queiramos ou não.
A identidade de gênero forma-se a partir do entendimento da convicção que se tem de pertencer a um sexo, sendo, pois, uma construção social feita a partir do biológico. Neste processo, o sexo e os aspectos biológicos ganham significados sociais decorrentes das possibilidades físicas e sociais de homens e mulheres, delimitando suas características e espaços onde podem atuar.
Recebemos do patriarcado o modelo machista, os pecados da igreja, a subalternidade da mulher, como algo menor, sem direitos, sem voz, e assim gerações construíram esta sociedade que hoje é impregnada de preconceitos e desvalorização das mulheres, que pouco a pouco na contramão vieram alcançando seus direitos sociais, políticos e trabalhistas ao longo dos anos por meio de movimentos reivindicatórios, onde ocupam seus espaços com delicadeza e firmeza, reconhecendo seu protagonismo sociopolíticocultural no processo civilizatório.
As situações de violência contra a mulher
resultam, principalmente, da relação hierárquica estabelecida entre os sexos, carimbada
ao longo da história pela diferença de papéis instituídos socialmente a homens
e mulheres, fruto da educação diferenciada. Assim, o processo de machismo e
feminismo, desenvolve-se por meio da escola, família, igreja, amigos, vizinhança
e veículos de comunicação em massa.
Violência
contra a mulher se manifesta de diversos
tipos – desde assédio moral até
homicídio – que se manifestam contra ela porque ela é mulher. É uma forma de
violência de gênero, ou seja, quando uma pessoa é agredida por ser
– mulher, transexual, travesti, homossexual – pelo sexo oposto.
Esses crimes são a maior maneira de violar os direitos humanos da mulher, sua
integridade física, psicológica e moral.
A Organização das
Nações Unidas (ONU) iniciou seus esforços contra essa forma de violência, na
década de 50, com a criação da Comissão de Status da Mulher que formulou entre
os anos de 1949 e 1962 uma série de tratados baseados em provisões da Carta das
Nações Unidas — que afirma expressamente os direitos iguais entre homens e
mulheres e na Declaração Universal dos Direitos Humanos — que declara que todos
os direitos e liberdades humanos devem ser aplicados igualmente a homens e
mulheres, sem distinção de qualquer natureza.
Marco importante também na promoção dos direitos das mulheres foi a DECLARAÇÃO E PLATAFORMA DE AÇÃO DE PEQUIM, elaborado em 1995, durante a IV Conferência mundial sobre a mulher em Pequim, China. O evento ainda é o mais importante momento na conquista dos direitos das mulheres no mundo: pelo número de participantes que reuniu, pelos avanços conceituais e programáticos que propiciou, e pela influência que continua a ter na promoção da situação da mulher. Por exemplo, tanto a afirmação de que os direitos das mulheres são direitos humanos, quanto o objetivo de empoderamento da mulher, provêm deste encontro. Ali, foi feito um acordo adotado por 189 governos comprometidos com a promoção da igualdade de gênero. Lá se vão 25 anos e tão pouco caminhamos para as metas propostas.
Em 2010 temos a ONU Mulheres – A ONU Mulheres foi criada, para unir, fortalecer e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos humanos das mulheres. Alcançar a igualdade de gênero, empoderar todas as mulheres e meninas e realizar os seus direitos humanos é a missão incorporada pela ONU Mulheres em relação à Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável e aos 17 objetivos globais. Como contribuição à Agenda 2030, a ONU Mulheres está promovendo parcerias para acelerar e concretizar os compromissos de governos, empresas, sociedade civil e outros setores, para a eliminação das desigualdades de gênero. onumulheres.org.br
A violência psicológica
é tão perversa e cruel quanto a física.
A literatura especializada em saúde mental, vem demonstrando associação de
risco entre a experiência da violência e o desenvolvimento de agravos, de ordem
física e mental, os quais repercutem na diminuição de "anos saudáveis de
vida" das mulheres As consequências da violência doméstica são agravos
que vão desde um empurrão leve até à morte.
Sendo de natureza crônica, a
agressão à mulher vai além dos traumas e dos agravos visíveis (quebraduras,
torções), estando associada a problemas como: baixo peso ao nascer (dos
filhos), problemas gastrintestinais (úlceras, colites), queixas ginecológicas
(abortos, gravidezes indesejadas e repetidas em curto espaço de tempo, doenças
sexualmente transmissíveis, hemorragias, lesões, dores pélvicas, leucorréias
repetidas e infecções), abuso de álcool e outras drogas, queixas vagas,
depressão, insônia, suicídio, sofrimento mental, lesões e problemas crônicos,
como distúrbios alimentares, dores abdominais e de cabeça, e até artrite,
hipertensão e doenças cardíacas .
Muitas mulheres relatam que ambientes familiares que já eram violentos antes da pandemia ficaram mais agressivos diante da falta de dinheiro – e do convívio em tempo integral dos familiares dentro de casa.
Na atual Pandemia , relatórios apontam que no Brasil, São Paulo , desde a quarentena em 24 de março 2020 , a Policia Militar registrou aumento de 44,9 % no atendimento a mulheres vítima de violência, o total de socorros prestados passou de 6.775 para 9.817. Casos de feminicídios, que é um termo de crime de ódio baseado no gênero, amplamente definido como o assassinato de mulheres em contexto de violência doméstica ou em aversão ao gênero da vítima , misoginia, dentro de seus contextos sociais específicos, subiram de 13 para 19 ( 46,2%). No Rio de Janeiro o aumento foi de 50% nos casos de violência doméstica , logo nos primeiros dias da quarentena.
Aumento da violência doméstica no mundo 2020
Abaixo, dados da ONU Mulheres e da OMS sobre o aumento da violência doméstica nos países afetados pela pandemia de coronavírus:
#Na França, o registros de casos de violência doméstica aumentou em 30% desde 17 de março, quando o país decretou a quarentena – em Paris, o aumento foi de 36%.#Na China, as denúncias de violência contra a mulher triplicou durante o período de confinamento, entre janeiro e começo de abril.#Na Argentina, houve aumento de 25% nas denúncias telefônicas desde 20 de março, quando o país adotou medidas de isolamento.#Em Singapura, o aumento nos registros de denúncias foi de 30% em março.#Na Malásia e no Líbano, as denúncias de violência contra a mulher duplicaram durante o período de confinamento.#No Canadá, França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, autoridades governamentais relatam crescentes denúncias de violência doméstica e aumento da demanda para abrigo às vítimas.
Estratégias para enfrentar a violência doméstica :
No dia 14/04/2020, a organização feminista brasileira Think Olga lançou um relatório reunindo dados sobre o aumento da violência contra as mulheres durante a pandemia de coronavírus. No documento, a entidade lista estratégias para as vítimas de violência doméstica adotarem :
#trazer alguém da família para casa;
#esconder objetos pontiagudos;
#retirar de casa possíveis "gatilhos" e potencializadores, como bebidas alcoólicas e drogas;
#avisar familiares e vizinhos sobre o que está acontecendo (em caso de episódios de violência);
#e manter contato com sua rede de apoio por meio de telefone e aplicativos, e-mail e outras redes sociais.
Tanto a ONU Mulheres quanto a OMS e organizações feministas defendem que, durante a pandemia, a solução não é pôr fim ao isolamento social, mas, sim, manter ativos os serviços de proteção à mulher, aumentar o investimento em serviços on-line, declarar abrigos como serviços essenciais e oferecer suporte às ONGs locais de combate à violência doméstica.
Neste momento redes solidárias fazem a diferença .
#VizinhaVocêNãoEstáSozinha foi organizado por um coletivo de mulheres para formar um espaço de acolhimento e solidariedade.
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