Platão , era grego, como sabemos um dos mais importantes filósofos do período clássico de nossa história, Viveu pelos anos de 428 a 347 A.C. e sempre estava com seu grande mentor Sócrates e de seu aluno Aristóteles. Que trio heim !!!! Altos papos rolavam por ali....
Sócrates sempre insistia com seus pupilos que a filosofia deveria sempre falar das questões cotidianas, falar de pessoas comuns, assim como ele, que era filho de pedreiro e de uma parteira. Não deixou suas ideias escritas, como conjunto de suposições, teorias, mas os seus fiéis discípulos Platão e Xenofonte deixaram para nós os relatos da vivência de seu grande mentor.
Sócrates nos convida a sempre reavaliarmos nossas ações, emoções, para que possamos desenvolver habilidades para modular as nossas reações negativas diante de certos conflitos, para que em mudando nossas crenças e emoções vamos conseguir ressignificar nosso vivido para o pensamento de positividade, alteridade e otimismo, ao que já na pós modernidade, se podemos chamar assim, os neurocientistas chamam de “reavaliação cognitiva”, onde podemos utilizar a habilidade de plasticidade de nosso cérebro, como já falava o filósofo estoico grego Epiteto : ” Não há nada mais manipulável do que a psique humana.”
Seguindo seu grande mestre, Platão nos traz seu pensamento dizendo que através do conhecimento é possível captar a existência do mundo sensível. No seu livro A República , ele nos fala do mito da caverna.
Em síntese o mito da caverna , nos fala de prisioneiros que desde o seu nascimento, vivem atados em correntes em uma caverna e todo o tempo ficam olhando para a parede em frente. Esta parede é iluminada por uma fogueira que fica atrás deles. Nessa parede são projetadas suas sombras, suas formas, e todos passam o tempo todo olhando para as sombras, dando nomes, e tentando entender o que sempre se repetia. Um dos prisioneiros escapa para o mundo exterior, e vê a luz do sol, e compreende a vida. Pensa em voltar a caverna e contar aos amigos sobre tudo que aprendeu. Mas teme ser tido como lunático.
Simbolicamente podemos dizer que : a caverna – é o nosso mundo, onde somos os prisioneiros na eterna repetição de falsas crenças, o fogo – é a luz do sol do conhecimento, o prisioneiro que foge representa o anseio de nossa alma de libertar-se da sombra de sua ignorância , mas ainda temerária por revelar-se.
O mito da caverna é uma metáfora que acompanha nosso processo civilizatório. Somos ainda prisioneiros da sombra do poder, do orgulho, da vaidade, que nos afastam dos reais contornos, cores e formas que a lógica do bom senso nos propõe como reflexão.
As trevas da ignorância de nossa complexidade metafísica expressam-se como os prisioneiros da caverna que viam suas projeções na parede gigantesca, ficavam admirados de algo tão maior que eles mesmos, se iludiam, e não prestavam atenção em si mesmos, viviam da forma e não se questionavam sobre sua essência, transcendência.
Na nossa contemporaneidade fico a pensar que estamos ficando presos na caverna do tecnocentrismo, da ditadura cibernética. Somos treinados desde a infância a viver com pressa, automatizados, que tudo podemos e conseguiremos se corrermos muito.
O mundo, como somos induzidos a acreditar, tornou-se uma caverna sombria com simulacros de coisas que imaginamos necessitam ser consumidas e aproveitadas, alimentados pela cultura da escassez, que gera medo e competição. A pressa e o vazio existencial são fruto disso, das oportunidades que não podemos perder. Elas são infinitas se acreditamos nelas. E por conta disso, muitas pessoas perdem o limite e atropelam a ética.
Nada contra o movimento tecnológico, só acho que estamos ficando muito dependentes destes mecanismos que sustentam vertiginosamente o modelo capitalista, consumista e com pouca ética. Onde o desrespeito ao Humano, é sobreposto aos PIBs, as taxas de juros, a busca dos algorítimos que tudo sabem de nós, se duvidar, até mais... superfaturamentos, enfim a métrica dos números. E os orçamentos encolhem para Cultura, Educação e Saúde no Brasil.
E aqueles que saem da caverna, estão na resistência deste mundo invadido de fake news. Vivemos grande parte de nosso dia nas redes sociais e esta interação permitida pelo uso de dispositivos e as potencialidades das tecnologias de informação de comunicação contribuem para repensarmos as dinâmicas sociais, de que maneira , estamos nos conectando com a rede de informações, a rede de poder. onde o discurso do ódio e da desagregação social, se instala deixando prejuízos as vezes irreparáveis.
Aquele que retorna para a caverna, dividiu com os que ali estavam os conhecimentos e novidades que teve contato no momento que passou fora da caverna. Mas foi ridicularizado pelos companheiros que ainda estavam presos, pois eles só enxergavam as sombras e acreditavam que o que estava ali refletido era única verdade possível.
Quantas pessoas se iludem em crenças rígidas, conceitos estáticos e se esquecem que o conhecimento deve passear, fluir, entender o aspecto existencial da Cosmogênese, que é uma visão mais ampla, estrutural do Universo. Um sopro aqui, reflete em todo Universo. Estamos em teia, e não em cavernas isoladas. O Universo tem 13 bilhões de anos, e nós também temos essa idade.
A nossa Mãe Terra, nos oferece tanto, só que seus bens e serviços são limitados, e o homem em sua ânsia de explorador, empreendedor, colonizador, "veem" estes recursos como ilimitados, apesar dos alertas científicos e das grandes organizações defensoras do meio ambiente.
E aí vemos aqueles que dizem que a terra é plana, vacinas transformam pessoas em jacarés, que não há aquecimento global e outras baboseiras, sem fundamentação científica.
Os recursos de nosso Planeta estão se exaurindo. A nossa comunidade de vida, nos pede agora e sempre cuidado, reflexão, compaixão e amor pela nossa Terra, para que saiamos da escuridão de nós mesmo, das amarradas, dos apegos, da cegueira que nos atrelam a caverna da ignorância para que possamos nos despojar de nosso instinto acumulador, egocentrista e percebermos que a cada ano some 100 mil espécies de seres vivos do planeta, dado a voracidade se alguns que querem brincar de "pequeno deus".
Somos seres do Cosmos. A experiência pandêmica, covid -19, é uma boa janela para refletirmos na possibilidade de uma visão mais orgânica da vida. Nós e o Universo estamos emaranhados.
E fico aqui pensando..... como é difícil mudarmos, mas também como é possível tentarmos....
Jane
"Quem acusa os outros pelos próprios infortúnios revela uma total falta de educação; quem acusa a si mesmo mostra que a sua educação já começou; mas quem não acusa nem a si mesmo nem aos outros revela que sua educação está completa."
Epíteto (55-135 d.C.) filósofo estoíco da Grécia antiga.