sexta-feira, 17 de junho de 2011

Carlos Henrique de Escobar ( filósofo, poeta, dramaturgo e Doutor em Comunicação pela UFRJ.)





Escobar adora gatos...
                                                   Agradecimento....

           A minha experiência de ter sido aluna de Escobar, nos grandes embates estudantis que tínhamos na época dos anos 80/90 onde ele  usava algumas vezes  o auditório da Universidade Santa Úrsula-RJ para  dividir com os alunos de diversos cursos  seu conhecimento onde participava  com suas belas e apaixonadas exposições sobre os gênios da filosofia, sendo ele também um deles. Era comum  nesta época grandes mestres como Leandro Konder, Creusa Cabalbo, Merquior, Jose Américo Mottta Pessanha, entre outros, usarem os auditórios das Universidades para grandes debates filosóficos, de graça, pelo amor a arte de ensinar.
             Hoje não vemos isto, as pessoas estão com muita pressa de ganhar , de ter. Acreditam que a avassaladora onda  comercial de auto ajuda, que se conquista em uma palestra , que se paga caríssimo, será suficiente para ter o seu processo de autoconhecimento e reflexão de ser-no mundo .(nada contra os livros, que de fato ajudam muito, mas contra sim,  a este modelo chamado de COACH, (“Coach”, palavra em inglês que significa treinador. E é isso mesmo que este profissional vai fazer por você e pela sua carreira: ajuda especializada e apoio para novos parâmetros para a vida profissional e pessoal ).Por que  cobram tão caro por estas palestras e cursos ? Se é tão bom, por que não socializar este saber com preços mais acessíveis, ? Até acho interessante os tema , como primeiro passo para uma reflexão .Mas elitizar o saber acho um pouco demais....
               Quanto  as aulas de filosofia nas escolas públicas de ensino médio são  praticamente inexistentes. Não há cursos de  formação em filosofia quanto de informática, engenharia de produção... e tantos outros... Precisamos desenvolver a arte de pensar.Aqui em Campos dos Goytacazes-RJ há praticamente 04 anos não tem alunos suficientes para se formar uma turma de filosofia.Muitos devem pensar, fazer filosofia para que ? As escolas não contratam professores para esta área, então... É um equívoco pensarmos assim, pois quando uma categoria  se une e luta por seus ideais , consegue conquistar o seu espaço no cenário da educação.
            Lendo este texto do  Ígor,( logo abaixo) tenho a acrescentar que foi uma honra ter conhecido Carlos Henrique de Escobar, todo amor que tenho pela filosofia, devo a ele. Homem especial, sua alegria de dividir seus conhecimentos, acalentava toda aquela juventude que o acompanhahava para todos os lugares.Se fosse lançar um livro, todos iam. Me lembro do livro que lançou  Por que Nietzsche ? no bar do filho de Nelson Rodrigues,( com uma barba enorme ) acho que foi em Botafogo... éramos seus admiradores, seguidores, era um mestre... . Como gostaria de  assistir  uma aula sua, recordar  e sentir toda a curiosidade e vontade  que tinha de entender tudo que ele ensinava. Saia da aula e ia para casa maravilhada com a possibilidade de poder aprender mais sobre os  diversos "pensares".  Como seria bom que todos  os professores percebessem que o saber é para   compartilhar, envolver os alunos na magia do pensar, criar admiradores da arte de aprender , viver e conviver..sempre há  belas excessões, e Escobar, por certo é uma destas . 
 Jane

Texto de:  Ígor Lopes
"Carlos Henrique Escobar Fagundes, nasceu em novembro de 1933, em São Paulo. Chegou a Portugal em outubro de 2000, viajando do Brasil direto a Livorno, na Itália, num navio misto de passageiros e de carga. Logo depois voou para Portugal, via Zurique.
Escobar, como ficou conhecido depois de um curso de cinema, no Rio de Janeiro, trouxe consigo sua esposa Ana, seu filho Emílio e seus sete gatos, que vieram diretos para Portugal. “Os motivos principais desta mudança para Portugal foram alguns problemas de saúde da Ana, que é portuguesa e cuja família toda vive em Portugal, além do fato de que não querer que nosso filho crescesse na violência do Rio”, afirma Escobar.
Carlos Henrique Escobar vive em Aveiro, cidade da região da Beira Litoral, a 265 km de Lisboa. O filósofo orgulha-se do fato de não ter feito a escolaridade tradicional, sendo considerado um autodidata. Até hoje, o escritor publicou cerca de 30 livros, entre poesia, teatro, ensaios e filosofia, no Brasil e em Portugal. Com 71 anos, atualmente o autor ocupa suas horas livres tratando da publicação de seu teatro aqui em Portugal, além de escrever seu livro de teses de filosofia.
Mesmo longe do Brasil, em tom poético, o professor não esconde a mágoa das pessoas que não o apoiaram: “Acho que fiz muitos inimigos porque “sonhei” com o caráter, a firmeza das posições e talvez também com a misericórdia. Os homens parecem não saber onde estão, nem quem são. Afinal, há tão pouca loucura no mundo”.
Depois de muitos sacrifícios na ditadura, Escobar diz não recear a morte: “Estou bem. Sempre mais velho e mais ‘morrendo’, num processo crescente de compreensão, surpresa, respeito e também revolta. Sinto que não sei e não saberei morrer, mas sinto que ter vivido a dor no corpo-a-corpo da infância e da juventude, nos choques elétricos, nos afogamentos e violências sexuais do Doi-Codi acabou por me ajudar muito a ser velho e a administrar o horror”.
Dos tempos de professor da Facha, o filósofo manda um recado a alguns professores: “Minha saudade de cada um de vocês é imensa. E sinto muito ter algumas vezes criticado ou exigido algo mais de um ou de outro. Sempre admirei a delicadeza e até beleza da forma do Naílton administrar a Escola de uma forma leve, quase secreta, mesmo se inseparável de uma sombra. Sei que ele o fez para sobreviver e assim não me aborreço que isso implique numa certa injusta submissão a pessoas mesquinhas e incompetentes que subtraem os recursos da Escola, sem nada investirem”.
Como docente, Escobar afirma ter dado o melhor de si, mesmo aos que não mereceram: “Quanto a mim, respeitei os alunos, cumpri as obrigações de professor e fui amigo de todos, mesmo dos que jamais foram meus amigos”. Mesmo os sindicatos não lhe são uma boa recordação: “Fui solidário com a luta dos professores, nunca traí esta luta, mesmo quando o Sindicato nos traía. Não fiz concessões aos “poderosos” para me beneficiar, aliás me repugna tirar proveito seja ele qual for na vida, e ainda mais numa realidade como o Brasil”.
“Quero e compreendo que os fracos, desleais, mentirosos profissionais, falem mal de mim e me tenham temido. Eu os infernizava. Que sejam eles os testemunhos de quem fui. Há uma certa inocência dos que procuram tirar proveito da vida à custa da dor e humilhação dos outros”, desabafa ele.
O poeta descreve o Brasil como um país sem caracter, aludindo aos maus tempos de uma política quase sem precedentes: “Se envelheço e morro é porque vivi o tamanho inteiro da minha vida, porque sobrevivi a uma ousadia muito minha. E se sobrevivi aos perigos e posições que assumi num país absolutamente sem caráter, é porque devo a vida à sorte de ser amado pelas mulheres. Mas o que mais me orgulhou foi a fidelidade com todos os animais”. Carlos Henrique Escobar passa o dia acompanhado de seus gatos, que são os animais preferidos do filósofo, quem encontrou em Aveiro um cenário perfeito para estudar e escrever.

A vida de Escobar

Como dramaturgo, Escobar escreveu a primeira peça aos 17 anos (Antígona América) e teve várias outras premiadas pelo Serviço Nacional de Teatro. Tem dez livros editados com várias peças, além das últimas: “Medeia Masculina” e “A Tragédia de Althusser”, editadas em Portugal. Em poesia, editou seis livros, sendo também premiado algumas vezes. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira de professor universitário, sendo um dos fundadores da Escola de Comunicação da UFRJ. Militante de esquerda desde a sua juventude, foi preso político durante a ditadura militar, perdendo a audição de um ouvido nas salas de tortura, além de ser proibido de dar aulas, sendo anistiado durante o governo Sarney, em 1986. Durante esse tempo lecionou em várias Universidades privadas do Rio e viajou por todo o Brasil dando cursos e conferências.
Em 1986 volta à UFRJ e à UFF e recebe, pela UFRJ, o título de Notório Saber. Em 1992 recebe o título de doutor na Escola de Comunicação da UFRJ, defendendo a tese “O Marxismo Trágico”. Foi também, durante cinco anos, professor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Editou mais de dez livros de Filosofia e de Ensaios.
Depois de reformar-se veio, no final de 2000, viver em Portugal, onde participa em congressos e dá conferências. "

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