Menina lendo, 1957- Boris Anatolyevich Sholokho (Rússia,1919 – 2003)
A Leitora de Federico Faruffini e Jovem Rapaz Lendo à Luz de Vela por Mathias Stomer
O HOMEM QUE LÊ
Eu lia há muito. Desde que esta tardecom o seu ruído de chuva chegou às janelas.Abstraí-me do vento lá fora:o meu livro era difícil.Olhei as suas páginas como rostosque se ensombram pela profunda reflexãoe em redor da minha leitura parava o tempo. —De repente sobre as páginas lançou-se uma luze em vez da tímida confusão de palavrasestava: tarde, tarde… em todas elas.Não olho ainda para fora, mas rasgam-se jáas longas linhas, e as palavras rolamdos seus fios, para onde elas querem.Então sei: sobre os jardinstransbordantes, radiantes, abriram-se os céus;o sol deve ter surgido de novo. —E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:o que está disperso ordena-se em poucos grupos,obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoase estranhamente longe, como se significasse algo mais,ouve-se o pouco que ainda acontece.
nada será estranho, tudo grande.Aí fora existe o que vivo dentro de mime aqui e mais além nada tem fronteiras;apenas me entreteço mais ainda com elequando o meu olhar se adapta às coisase à grave simplicidade das multidões, —então a terra cresce acima de si mesma.E parece que abarca todo o céu:a primeira estrela é como a última casa.
“O Homem que Lê”, Rainer Maria Rilke. In: O Livro das Imagens. Tradução de Maria João Costa Pereira
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