quinta-feira, 17 de abril de 2014

A expectativa de ser-no-mundo..


..... Há aluguns dias tenho pensado e lido sobre este tema .Escrever é uma forma de tentar entender algumas questões que nos incomodam. Sendo assim, divido minhas dúvidas, idéias e algumas poucas certezas.


Tema: Como andam nossas expectativas enquanto ser-no-mundo? Estamos mais voltado para as questões da razão ou para a poética da esperança?

   Expectativa do latim, exspectatio, quer dizer esperança.É um sentimento de que algo se realize.
    A razão iluminista com Hegel, atravessa os palcos da história das civilizações como protagonista de um enredo que marcou o avanço da humanidade.Para ele a homem deve se sujeitar à astúcia da razão e aceitar seu papel de coadjuvante na construção de uma História, na qual os feitos humanos são narrados como a concretização do movimento dialético do SER. Para Hegel “Tudo o que é racional é real e tudo o que é real é racional”.
     Esta visão do espírito absoluto da razão , idéia básica do iluminismo,defendida por Hegel, encontra nas idéias de Friedrich Nietzsche ,uma ruptura.  A razão humana para Nietzsche, não almeja o conhecimento e o esclarecimento em virtude de determinadas conquistas para sua evolução enquanto ser histórico.Para ele ,o conhecimento estabelece-se como uma relação estratégica em que o homem se acha situado, ignorando as diferenças, assimilando as coisas do mundo, sem nenhum fundamento real.
    Na linha de pensamento do Nietzsche , encontramos o grande pensador alemão Arthur Schopenhauer ( 1799-1860) , que tem sua primeira obra publicada em 1819, com o título “O mundo como vontade de representação. “Ele considera que o conhecimento humano reside no próprio homem e não nas coisas que ele julga conhecer.É um erro partirmos “de fora” para encontrarmos a significação tão procurada deste mundo. Dessa maneira, o homem deveria procurar mergulhar com atenção em si mesmo primeiramente, segundo o autor.
   Para Schopenhauer este mundo que vivemos é de mera representação , e que as coisas tem uma existência meramente relativa.Seguidor da filosofia de Immanuel Kant (1724-1804) , que dizia que certos elementos essenciais que constituem qualquer objeto não são propriedades do objeto, mas sim do próprio sujeito que conhece.
   Sendo assim, podemos levantar algumas questões na linha deste pensamento de Kant: O que o homem de fato conhece ? Conhece as coisas como elas são em si mesmas, ou como elas se apresentam para o homem ?
   No pensamento de Kant, o homem, em razão da sua estrutura cognitiva , traz consigo as formas essenciais constituintes dos objetos, podendo desta forma só conhecer os fenômenos, ou seja, aquilo que o objeto lhe oferece e não o objeto tal como é em si mesmo, ou seja, a coisa-em-si .
   Sendo assim, na filosofia destes dois pensadores, não podemos afirmar que conhecemos isto ou aquilo de determinados objetos, mas sim que conhecemos e percebemos o que está em nosso em torno e que a isto podemos chamar de  nossa representação do mundo.Assim, o homem sabe que o mundo que o cerca existe apenas como representação , na sua relação com um ser que percebe, que é o próprio homem.
     Schopenhauer é considerado por muitos filósofos como extremamente pessimista , e é chamado pelo próprio Nietzsche de “ cavaleiro solitário”, mas teve seu papel na filosofia de ser um grande contestador de Hegel, e trazer a tona a reflexão sobre o valor absoluto que se dava a razão e a necessidade de se pensar em novos paradigmas para o conhecimento, que foi para ele relevante , ao tratar do mundo como uma questão meramente representativa, uma ilusão, incerto , efêmero, onde a essência de todas as coisas, seria a coisa-em-si,que em última instância, ele afirma ser a nossa Vontade.
   Esta visão traz para o homem uma visão pessimista, sem expectativas, de infelicidade permanente , onde o homem percebe que o seu corpo e a sua vontade são uma e a mesma coisa; percebe que todo ato voluntário corresponde a uma ação corporal.Esta correspondência se dá sempre e, infalivelmente, diz Schopenhauer.
     Ficaríamos então presos a esta relação corpo e vontade ? Como transcender este estágio , em busca de uma metafísica ? Ou seja, como buscar a verdade que seja necessária e universal , no sentido de saber se é possível existirem coisas que foram, são e serão assim; e ainda, que não podem “ou podem “ ser de outro modo ?
    A filosofia é sempre um convite , e um conhecimento aberto ao "Pense nisso", e não" Pense isso".
      Para Aristóteles não devemos dar ouvidos àqueles que aconselham ao homem, por ser mortal, que se limite a pensar coisas humanas e mortais; ao contrário, porém, à medida do possível, precisamos nos comportar como imortais e tudo fazer para viver segundo a parte mais nobre que há em nós. Aristóteles chamou a metafísica de Filosofia Primeira, porque, ela é a ciência que tem como objeto próprio o objeto comum de todas as outras e como princípio próprio um princípio que condiciona a validade de todos os outros.(Nicola Abbagnano- Dicionário de Filosofia).
     Em busca desta metafísica,de um princípio , de interpretações para produzirmos um sentido de nossa existência nas nossas relações diante do mundo, onde normalmente nesta relação , nos perdemos por vivermos em função apenas do que aparentamos ser, a nossa existência está sempre se projetando para o futuro, para o novo, e agimos de acordo com o que ainda pode ser.
    Este comportamento gera em nós um excesso de ansiedade , expectativas ,turbulência mental, impaciência e intolerância.E quando nossas expectativas não acontecem , ficamos frustados, melancólicos.
     A possibilidade de ter expectativas, que é algo inerente à natureza humana, é uma forma de darmos objetivo a nossa vida, traçarmos metas , projetos,na tentativa de visualizarmos uma direção que nos leve em busca da esperança, do otimismo.   Quando vou além destas experiências, de seus limites, entendendo que minhas experiências são falíveis, complexas e contingentes, transcendo a imprevisibilidade da vida, e aceito a minha existência com as expectativas que lhe dou ou mudo minhas expectativas em busca de estratégias que minimizem os meus desapontamentos , entendendo a minha incompletude, como processo de formação de meu self, que é potencialmente perfectível.
    Importante é termos o foco que tudo em nossa vida é dinâmico e direcionado pela energia Superior ,para o bem, para o belo , para as virtudes, sendo a esperança uma delas .Não podemos negar que existe em nós em muitos momentos ,o sentimento de desespero diante das dores, das perdas, de nossas tristezas, precisamos saber conviver com esta intranquilidade do presente, para construirmos a harmonia do amanhã. 
  Conviver com este hiato entre a nossa incompletude e a nossa possibilidade de sermos plenos, traz angústia de querer estar lá e não estar apto ainda, querer ser feliz, querer ser pleno de virtudes, mas não é para agora, neste momento a esperança ocupa um espaço enorme em nossa existência.
    Como ensinava Aristóteles que a felicidade, e a virtude, estão na justa medida ,ou no meio termo.Na verdade não podemos viver sem expectativas , mas também não podemos viver só de expectativas.
     Concluímos com Eckhart Tolle, alemão, autor do livro “O poder do agora”, quando ele afirma: “As vezes , o momento atual é inaceitável, desagradável ou terrível. As coisas são como são. Observe como a mente julga continuamente o comportamento, atribuindo nomes às coisas.Entenda como esse processo cria sofrimento e infelicidade.Ao observarmos os mecanismos da mente, escapamos dos padrões de resistência e podemos então permitir que o momento atual exista.Isso dará a você uma prova do estado de liberdade interior, o estado da verdadeira paz interior.Veja então o que acontece e parta para a ação, caso necessário ou possível.
   Aceite, depois aja.O que quer que o momento atual contenha, aceite-o como uma escolha sua.Trabalhe sempre com ele, não contra.Torne-o um amigo e aliado, não seu inimigo.Isso transformará toda a sua vida...”
  Sentir o momento presente e a nossa plenitude enquanto seres perfectíveis , é sentir a nossa presença no mundo como seres de expectativas onde projetamos na esperança e na busca do autoencontro o equilíbrio entre  razão e  sentimento.

Jane.



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