quarta-feira, 29 de agosto de 2012

# Fenomenologia da linguagem com Merleau Ponty- Parte II



   Maurice Merleau- Ponty, nasceu em 1908 e morreu em 1961. Seu primeiro livro filosófico foi –A Estrutura do comportamento, publicado em 1942. Ponty é seguidor dos postulados de Edmund Husserl, que viveu de 1859 a 1938 e manteve cadeiras sucessivas na Universidade de Cottingen e Freiburg. Husserl estudou em Viena , foi aluno de Franz Bretano.
   No parecer de Ponty, a fenomenologia da linguagem apresenta-se em seu primeiro momento com Husserl da 4ª das Investigações Lógicas, como uma tentativa de apreensão da essência de toda linguagem concebível. A incubência do fenomenológo consistiria na elaboração de uma eidética da linguagem, uma gramática pura, que enumerasse e descrevesse as formas de significação universais que seriam atributos precípuos de toda linguagem de fato.
   Para Ponty, a questão da palavra surge da experiência humana. É no encontro do humano e do inumano, que a linguagem se apresenta como um comportamento do mundo. A linguagem fenomenológica tenta descrever a experiência vivida, explicitando seu sentido.
   A fenomenologia procura não se limitar aos fenômenos, fechando a consciência em seus próprios estados, mas, de tratar o que nos aparece a consciência como um fato universal.A fenomenologia renuncia o absoluto e procura nos fenômenos a vida de acesso ao ser e procura a racionalidade na sua própria contingência ontológica.
   Merleau-Ponty, nos seus estudos tenta descrever o fenômeno da fala, ultrapassando definitivamente a dicotomia clássica entre sujeito e objeto. Ponty tenta o movimento de integração que se faz no corpo, dentro de sua unidade para fazer sua  análise sobre a questão da lingüística .
  Thomas R. Giles, em estudo sobre Ponty, nos diz que: “ .. as palavras podem ser “as fortalezas do pensamento”, e o pensamento só pode procurar a expressão, se as palavras forem por si mesmas um texto compreensível e possuírem uma força de significação que lhes seja própria.É necessário que, de uma maneira ou de outra, a palavra e a fala deixem de ser uma maneira de significar o objeto ou o pensamento, para tornar-se presença deste pensamento no mundo sensível, não sua vestimenta, mas seu emblema ou seu corpo. É preciso que haja, como afirmam os psicólogos, um “conceito lingüístico”, ou um conceito verbal, graças a qual o som ouvido, pronunciado, escrito ou lido se torne de fato de linguagem” 
   Desde que o homem se serve da linguagem  para estabelecer uma relação viva consigo mesmo ou com seus semelhantes , a linguagem já não é mais um instrumento, já não é um meio, uma manifestação, uma revelação do ser íntimo e do laço psíquico que nos une ao mundo e aos nossos semelhantes. Ponty, propõe a idéia de um pensamento ligado ao mundo pela dimensão do corpo próprio. Isto quer dizer, que a experiência do vivido deve sempre estar vinculada a crítica do cogito, e que não está limitada a questão da consciência, mas que se projeta para além dela, para um horizonte mais distante.
  A palavra é a própria presença do pensamento do mundo sensível. Podemos dizer, que a linguagem nos transcende, mas todavia apesar disto falamos. Os estudos do autor, nos leva a entender que não há por detrás da  linguagem um pensamento transcendente, mas o pensamento se transcende na fala.
  Para Ponty , “ a fala não é o símbolo do pensamento se se entende por isso um fenômenoo que anuncia um outro, como a fumaça anuncia o fogo. A fala e o pensamento só admitiriam essa relação exterior, se fossem uma e outra tematicamente dados. De fato, eles estão englobados um no outro, o sentido é tamado na palavra e a palavra é a existência do sentido. Já, não se pode admitir, como se faz comumente, que a palavra seja um simples meio de fixação ou, ainda, o invólucro ou a vestimenta do pensamento.” 
  Nesta ótica, é só através da relação com o mundo que o homem define a sua linguagem e se comunica com a humanidade, se integrando na comunidade imediata e mediata a ele. É nesta experiência do sujeito falante que surge a fenomenologia da linguagem, que se coloca em oposição radical entre a filosofia da linguagem clássica que vê na linguagem a questão do significado e do significante como elementos centrais, fechados em si mesmos.
    A visão fenomenológica vai além desta relação significado X significante, ela nos possibilita refletir sobre a nossa experiência do vivido, não nos reduzindo simplesmente ao plano de nossa consciência, mas, nos mostrando um horizonte que também lhe escapa, nos permitindo uma constante crítica sobre a própria evidência do nosso cogito.
   Nesta perspectiva, a linguagem é importante, não apenas pela função descritiva e comunicativa, mas também pela função existencial. A palavra testemunha a nossa existência para nós e para os outros.
  Portanto, as tentativas que são feitas para delimitar a linguagem humana nos limites da ciência, estão voltadas à falência, assim como todas as tentativas que optarem pelos caminhos estritamente científicos.
   Concluimos que para de fato compreendermos o homo loquens torna-se mister ultrapassarmos os limites estreitos da ciência tradicional  e nos voltarmos para a abrangência metafísica .

 Jane




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