sexta-feira, 11 de outubro de 2013

# Saúde Mental e a Reforma Psiquiátrica #

 




O hospício é construído para controlar e reprimir os trabalhadores que perderam a capacidade de responder aos interesses capitalistas de produção.”
                 Franco Basaglia


“Saúde mental é um termo usado para descrever um nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional ou a ausência de uma doença mental. Na perspectiva da psicologia positiva ou do holismo, a saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica.”

PINTURA DE : Edward Munch, O Grito
    Na década de 30,no Brasil,  não havia tratamento médico para o chamado doente mental, nesta época só  os ricos ficavam mantidos isolados em suas casas, longe dos olhares curiosos, sob cuidados especiais de alguém que podia ser pago para este fim ,enquanto os pobres perambulavam pelas ruas ou viviam isolados , segregados, nos porões das Santas Casas de Misericórdia.
  As formas de  abordagem desta  doença  eram muito desumanizante,os esquizofrênicos faziam hidroterapia na forma de banhos quentes ou frios durante horas seguidas. Também havia alguns tipos diferentes de terapia de choque: insulina, Metrazol e terapia eletro convulsiva (TEC). Todas elas provocavam convulsões nos pacientes, todas muito agressivas e experimentais.
  Foi no período do movimento militar de 1964 representou um marco na assistência psiquiátrica  no Brasil destinada ao doente mental indigente e a uma nova fase de extensão de cobertura aos trabalhadores e seus dependentes. Foram criados hospitais psiquiátricos particulares, e conveniados que abrigavam um número enorme de pacientes psiquiátricos , tendo em vista a grande precariedade dos atendimentos ambulatoriais.Cria-se  assim , uma indústria da loucura para atender aos interesses capitalistas. A partir deste grande número de pessoas internadas se começa a pensar nesta realidade, que se apresenta com tão alto índice de pessoas com doeças mentais, transtornos mentais, e se questionam quais seriam estas causas, e a forma desumanizante chama atenção dos jornais e da imprensa, que começam com denúncias e movimentos contra estas formas de tratamento desumanizantes.
     No Brasil, tal movimento de reconhecimento da necessidade de um tratamento mais humanizantes para os “doentes mentais “ inicia-se no final da década de 70 com a mobilização dos profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes .
   Esse movimento se inscreve no contexto de redemocratização do país e na mobilização político-social que ocorre na época.É o início da construção de  novos paradigmas para os transtornos mentais .
   Movimentos de mobilização , de denúncias ,levam a importantes acontecimentos como a intervenção e o fechamento da Clínica Anchieta, em Santos/SP, e a revisão legislativa proposta pelo então Deputado Paulo Delgado por meio do projeto de lei nº 3.657, ambos ocorridos em 1989, impulsionam a Reforma Psiquiátrica Brasileira.
    O movimento da Antipsiquiatria surgiu entre as décadas de 50 e 60 na  Europa , na luta pela liberdade, à contestação, a denúncia das condições repressoras da sociedade da época., contribuindo para grandes  transformações sociais.
  Com as experiências e reflexões de Franco Basaglia no norte da Itália, o conceito de Reforma Psiquiátrica sofre uma radical transformação. Ao invés da reforma do hospital psiquiátrico como um espaço de reclusão e não de cuidado e terapêutica, postula-se a sua própria negação. Movimentos contra a  assistência tradicional ao paciente com transtornos mentais vão acontecento em vários continentes, demostrando que era necessário repensar esta demanda, e que os métodos tradicionais não davam conta do restabelecimento do bem estar , da saúde mental destes paciente.
     Relendo e resgatando nossa história , o Brasil hoje se empenha em  tornar aplicável a  Lei Antimanicomial n.º 10.216, de 6/4/2001, que dispõe sobre a humanização da assistência, a gradativa desativação dos manicômios e a implementação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que, junto com os Serviços Residenciais Terapêuticos (Portaria GM n.º 106, de 11/2/2000), são parte integrante da Política de Saúde Mental do Ministério da Saúde, essenciais no processo de desinstitucionalização e reinserção social dos egressos dos hospitais psiquiátrico.
    Sabemos que não basta apenas não internar, não basta apenas fechar o hospital, não basta apenas  mudar denominações: deixar de ser paciente para ser usuário, e, usuário em assistido.O importante não é só atender as políticas públicas de saúde, mas atender as necessidades efetivas que o paciente psiquiátrico requer.
   “A substituição dos hospitais psiquiátricos enquanto asilos cronificantes, não significa o fim dos problemas mentais e de suas conseqüências sociais. Por isso, mais do que nunca, devemos interrogar-nos sobre nossa capacidade de lidar com o aparecimento de uma nova situação: a persistência dos problemas psiquiátricos e a presença de novas instituições destinadas a tratá-los”. (Silva, 1999).
    A  visão contemporânea mais aceita em  saúde mental é que a internação   seja evitada ao máximo e restrita para situações realmente incontornáveis. Mesmo quando uma internação psiquiátrica se impõe, o psiquiatra e os familiares devem ter em mente que o período de tempo no hospital há que ser o menor possível, para que não se rompam os vínculos afetivos e sociais do paciente, não o expondo assim ao raciocínio, ainda que inconsciente, de "se livrar do problema" - ou seja: do próprio “doente mental “ através de uma internação. O atendimento ambulatorial é o ideal para a maioria dos casos e, graças a  eficazes medicamentos , o psiquiatra consegue controlar os sintomas e manter o doente com transtorno mental no convívio normal. O que não acontecia na visão tradicional de assistência ao “doente mental”, o lema era higienizar a sociedade com a segregação destes doentes.
   A abordagem multidisciplinar, ou seja: conjunta entre um psiquiatra, um psicólogo, um assistente social e um neurologista, é em todos os casos a mais indicada. O auxílio de um terapeuta ocupacional especializado em saúde mental, um arteterapêuta, uma enfermagem igualmente especializada, um professor de educação física e terapeutas corporais podem também contribuir para amenizar o sofrimento  deste paciente.
     Entendemos que é necessário de fato humanizar esta visão dos doentes com transtornos mentais , bem como reconhecer  a nossa natureza humana  de forma holística e percebermos  o homem não apenas como um número, como mais um diagnóstico rotulado, um prontuário,como uma devolutiva de um teste psicológico. O ser humano é mais que uma parte.
  Humanizar é perceber as pessoas em sua totalidade física, mental, afetiva e espiritual , tendo uma visão que envolve a bioética. Este é um paradigma que precisamos entender,existencializar a vida.

 JANE

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