Antigamente, quando ficava triste, eu queria que a alegria viesse em meu
socorro em minutos, como se ela fosse a próxima estação do metrô. Não queria
atravessar ruas desertas, pontes frágeis, transversais melancólicas, não queria
percorrer um trajeto longo até conquistar um estado de espírito melhor. Queria
transformação imediata: da estação Tristeza para a estação Hip-Hip-Hurra, sem
escala e sem demora.
Eu era ingênua em acreditar que poderia governar meus sentimentos. Como se
fosse possível passar por estações deprimentes sem as ver, deixá-las para
sempre presas no underground e saltando nas estações que interessam: Euforia,
Segurança, Indepêndencia. Os pontos turísticos mais procurados.
Viver é uma caminhada e tanto, não tem essa colher de chá de selecionar onde
descer. É preciso passar por tudo: pelo desânimo, pela desesperança, pela
sensação de fracasso e fraqueza, até que a gente consiga chegar a uma praça
arborizada onde iniciam outras dezenas de ruas, outras tantas passagens, e a
gente segue caminhando, segue caminhando.
Locomover-se desse jeito é cansativo e lento, mas sei que não existe outra
maneira consciente de avançar. Metrôs oferecem idas e vindas às cegas. Mantém
nossas evoluções escondidas no subterrâneo. A gente não consegue enxergar o que
há entre um desgosto e um perdão, entre uma mágoa e uma gargalhada, entre o que
a gente era e o que a gente virou.
Não tem sido fácil, mas sinto orgulho por ter aprendido a atravessar, em plena
luz do dia, o que em mim é sombrio e intricado. Não me economizo mais. Me
gasto.
Martha Medeiros
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