2.1- Alguns aspectos do Serviço Social Clínico e do
Casework.
Clarificando as terminologias, quando nos referimos ao Serviço
Social Clínico, estamos fazendo uma ligação com o que os ingleses e os norte-
americanos chamam de “ casework”, ou mesmo de Serviço Social de Casos, que por
sua vez se relaciona como “Caso Social”.
Segundo Vera Regina Gonçalves, ..” um dos aspectos mais
característicos do modelo clínico é o emprego dos termos “ desordenados e
disfuncional”. Os componentes desordenados de qualquer natureza são
considerados como afastamento da norma. Nas décadas de 40 e 50, a tendência em
diagnosticar e tratar, de acordo com as normas ideais em voga da psicologia çlínica
e tipos clínicos de procedimento.”
Isto deixa claro, que o Serviço Social Clínico é uma prática
especializada, em que os profissionais que nela trabalham se utilizam de
conhecimentos de psicopatologia e de técnicas psicoterapêuticas.
Segundo Florence Hollis o Serviço Social Clínico tem como
objetivo, modificar impulsos e necessidades oriundas da infância , que se
tornam parcialmente inconscientes, que provocam no indivíduo conflitos
intrapsíquicos e que interferem no funcionamento adaptativo do ego e do
superego.
A influência marcante deste modelo refere-se a teoria do ego com base psicanalítica. As causas
externas já não eram o foco central do cliente para o A.S., mas outros
elementos começaram a fazer parte da compreensão do A.S. intervindo em sua
prática. As causas inerentes do cliente, ou seja, as frustações, seus desejos,
repressões, ansiedades, eram objeto de atenção do A.S.
O Serviço Social
Clínico surge no Brasil entre as décadas de 50 e 60, como instrumento de
ruptura com o assistencialismo que acontecia na práxis do A.S.
Porém na década de 70, a prática clínica começou a ser
questionada e criticada pelos teóricos da reconceituação, que propunham uma teoria
e metodologia, de Serviço social própria para a realidade da América Latina, o
grupo da reconceituação não aceitava ou não aceita, a contribuição do saber
psicanalítico na prática do Serviço Social.
O Serviço social Clínico era visto, por esta linha de pensamento, como
um processo de reabilitação terapêutica, cujo objetivo principal era melhorar o
funcionamento social, ajudando as pessoas a solucionarem seus problemas
disfuncionais de conduta.
Em alguns momentos quando usamos este termo, surgem dúvidas
quanto ao emprego correto do termo, por este motivo optamos por verificar como
Florence Hollis analisa esta questão.
Em determinado momento, Hollis chama o Serviço Social de
Casos (casework) de Serviço Social com indivíduos. A princípio nos parece um
processo somente ligado ao cliente, e independente dos vínculos familiares e
sociais que estão expressos em sua
personalidade. Mas, se entendermos que a visão psicossocial de Hollis está ligada
a visão sistêmica, entenderemos então que não podemos desvincular este cliente
do seu meio e das influências que exerce sobre ele. No ano de 1960 Helen Harris Perlman , publicou pela
University Chicago Press, o livro Social Casework, que em espanhol teve o
título de El Trabajo Social Individualizado(1965). Segundo o estudo de Nilza Simão a mudança de título “social
casework” para “trabajo social individualizado” reflete o conteúdo do processo
em seu aspecto qualitativo e quantitativo. Ainda no mesmo livro, a autora
altera o termo “casework” por especialista em “casework”, assinalando que as
operações realizadas no “casework” são essencialmente as de solução de
problemas. Procurou identificar, na prática, os elementos e os meios usados
pelo Assistente Social, estabelecendo os métodos e suas modalidades de
serviço, oferecendo uma dimensão nova no processo de Serviço
Social de Casos.
Entendemos que o Serviço Social é um “fato humano”, onde os
fatores externos e internos sempre estão em movimento, influenciando a vivência
do indivíduo em sua totalidade. De fato, o Serviço Social de Casos acontece
entre pessoas,o tratamento do indivíduo geralmente abrange mais de uma pessoa,
em particular a sua família, mas o responsável em todos os momentos, na solução
de seus problemas é o próprio cliente.
Os termos Serviço Social Clínico e casework, podem ser
conceituados como métodos de tratamento que focalizam as áreas de desajustes do
indivíduo, representadas por determinadas sintomatologias que são interpretadas
através das teorias freudianas.
O Serviço Social divide com as outras áreas do conhecimento
o seu saber profissional, o que só vem nos ajudar a desenvolver um trabalho
científico, que visa o aperfeiçoamento de nossa prática profissional. É desta
forma, que o Assistente Social deveria se utilizar da teoria freudiana para a
intervenção nos processos terapêuticos. Podemos , assim, dizer que esta é a
característica principal do casework, ou seja, a utilização dos processos
terapêuticos no tratamento do cliente.
Por outro lado, existem vários conflitos , inseguranças, e dúvidas
quanto a capacitação do Assistente Social de fazer uso destas teorias. Apesar de
reconhecermos a importância da teoria freudiana, devemos nos lembrar que o
Serviço Social contribuiu muito para com a psicanálise, com sua visão e
compreensão do papel da estrutura da família, as situações de realidade social
do cliente, ou seja, os seus problemas imediatos, concretos, as questões de
poder, opressão e classe social. Em realidade o que acontece é uma troca, uma
interdisciplinariedade que só vem a acrescentar as duas práticas profissionais.
Ressaltamos, que o Serviço Social de casos, na sua origem
teve a base científica da sociologia com estudos feitos por Mary Richmond. Nesta
visão, não é possível separar o cliente do seu ambiente, e este meio com
certeza influenciará na personalidade do indivíduo.
Com a divulgação das idéias de Mary Richmond e com o advento
da divulgação das teorias freudianas, na década de 30, o Serviço Social toma
emprestado estas teorias e as utiliza em sua formação e em suas especializações.
O Serviço Social Clínico, surge como uma especialização do Serviço Social de
casos. Especialização esta que está voltada também para a psicoterapia.
Em 1933, o Serviço Social obteve a contribuição de Jessie
Taft que veio trazer para o Serviço Social a dimensão terapêutica em seu estudo
entitulado “Relationship Therapy” com a influência direta de Otto Rank. Mais
tarde , em 1951, na 2ª edição do livro de Gordon Hamilton “ Teoria e Prática do
serviço Social “, a autora define casework como uma psicoterapia apoiada no
conceito de fato psicossocial distinta da psicanálise, embora utilizando os
princípios psicanalíticos.
Nesta ordem de idéias, os psicólogos focalizam a transferência
como uma questão primeira do tratamento, já o casework vê esta questão como
acidental no tratamento, mas entendendo que este momento é inevitável e deve
ser encarado de forma construtiva para ambos. Os psicólogos estudam a questão
dos sonhos e do inconsciente com profundidade; já os Assistentes Sociais não
trabalham com profundidade com estes
elementos no tratamento. O que pode ocorrer com o Assistente Social bem
orientado, é utilizar do material do sonho, quando é levantado pelo cliente e
nos seus limites metodológicos, entendendo que este material é composto por três
partes: 1- a realidade vivenciada pelo cliente: 2- os conflitos que são
manifestados através de determinados sonhos de forma simbólica ou explícita;3-
a transferência, com a manifestação do afeto do cliente para com o A.S., quando
este é o centro dos sonhos.
Devemos admitir que esta questão pode ser polêmica para os
Assistentes Sociais , mas na opinião de Hollis o casework, certamente precisa
conhecer um pouco as questões do inconsciente. É amplamente reconhecido que os
caminhos que nos levam a vida mental e comportamental do indivíduo, passam
pelas questões do inconsciente. Para a autora, tal conhecimento é essencial
para compreendermos o diagnóstico e o tratamento dos problemas interpessoais e
de ajustamento do cliente, as questões do inconsciente e do consciente são
sempre envolvidos em tais problemas.
Com Hollis , podemos concluir que é importante conhecermos o valor da teoria dos mecanismos inconscientes do
cliente e entendermos que estes elementos se refletem na transferência e no
relacionamento terapêutico, sem contudo o Assistente Social estimular e
aprofundar o material inconsciente do cliente.
O que observamos hoje, é a grande demanda por assistentes sociais na área de saúde, mas com a determinação do Conselho Profissional, quanto a restrição de práticas terapêuticas, a partir do Parecer Jurídico de 2008, muitos profissionais não se especializam nas diversas linhas psicoterápicas, o que minimiza a possibilidade de ação profissional do A.S. que deveria atuar nesta perspectiva somente com especialização, pós graduação, tal como ocorre em outros países, que não enfocam somente os aspectos políticos, sociológicos e antropológicos do Serviço Social, mas que entendem que o aspecto psicoterapêutico é também de fundamental importância para o entendimento do cliente.
Jane
Continua: 2.2- Histórico do Serviço Social Clínico.
Parabéns, uma ótima explicação e resgante histórico de uma riqueza enorme de nossa profissão que precisa ser recuperada e resinificada. Parabéns.
ResponderExcluirOlá. Obrigada pelo comentário.
ResponderExcluirJane e demais colegas que defendem o Serviço Social Clínico tenho uma ótima noticia hoje 17 de outubro de 2020 as 9:35 em Toledo-PR, nasceu a Sociedade Brasileira de Serviço Social Clínico - SoBSSCm estamos tentando mudar a história, estamos todos juntos, contamos com vocês, vamos realizar dois eventos, com quem podemos falar para fazermos parceria? abraço e bom final de semana. meu contato 45. 999413948
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