quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

# Serviço Social Clínico-Considerações teóricas.




2.1- Alguns aspectos do Serviço Social Clínico e do Casework.

  Clarificando as terminologias, quando nos referimos ao Serviço Social Clínico, estamos fazendo uma ligação com o que os ingleses e os norte- americanos chamam de “ casework”, ou mesmo de Serviço Social de Casos, que por sua vez se relaciona como “Caso Social”.
  Segundo Vera Regina Gonçalves, ..” um dos aspectos mais característicos do modelo clínico é o emprego dos termos “ desordenados e disfuncional”. Os componentes desordenados de qualquer natureza são considerados como afastamento da norma.         Nas décadas de 40 e 50, a tendência em diagnosticar e tratar, de acordo com as normas ideais em voga da psicologia çlínica e tipos clínicos de procedimento.”
 Isto deixa claro, que o Serviço Social Clínico é uma prática especializada, em que os profissionais que nela trabalham se utilizam de conhecimentos de psicopatologia e de técnicas psicoterapêuticas.
  Segundo Florence Hollis o Serviço Social Clínico tem como objetivo, modificar impulsos e necessidades oriundas da infância , que se tornam parcialmente inconscientes, que provocam no indivíduo conflitos intrapsíquicos e que interferem no funcionamento adaptativo do ego e do superego.
  A influência marcante deste modelo refere-se a teoria  do ego com base psicanalítica. As causas externas já não eram o foco central do cliente para o A.S., mas outros elementos começaram a fazer parte da compreensão do A.S. intervindo em sua prática. As causas inerentes do cliente, ou seja, as frustações, seus desejos, repressões, ansiedades, eram objeto de atenção do A.S.
   O Serviço Social Clínico surge no Brasil entre as décadas de 50 e 60, como instrumento de ruptura com o assistencialismo que acontecia na práxis do A.S.
  Porém na década de 70, a prática clínica começou a ser questionada e criticada pelos teóricos da reconceituação, que propunham uma teoria e metodologia, de Serviço social própria para a realidade da América Latina, o grupo da reconceituação não aceitava ou não aceita, a contribuição do saber psicanalítico na prática do Serviço Social.  O Serviço social Clínico era visto, por esta linha de pensamento, como um processo de reabilitação terapêutica, cujo objetivo principal era melhorar o funcionamento social, ajudando as pessoas a solucionarem seus problemas disfuncionais de conduta.
  Em alguns momentos quando usamos este termo, surgem dúvidas quanto ao emprego correto do termo, por este motivo optamos por verificar como Florence Hollis analisa esta questão.
  Em determinado momento, Hollis chama o Serviço Social de Casos (casework) de Serviço Social com indivíduos. A princípio nos parece um processo somente ligado ao cliente, e independente dos vínculos familiares e sociais que  estão expressos em sua personalidade. Mas, se entendermos que a visão psicossocial de   Hollis está ligada a visão sistêmica, entenderemos então que não podemos desvincular este cliente do seu meio e das influências que exerce sobre ele. No ano de 1960 Helen Harris Perlman , publicou pela University Chicago Press, o livro Social Casework, que em espanhol teve o título de El Trabajo Social Individualizado(1965). Segundo o estudo de Nilza Simão a mudança de título “social casework” para “trabajo social individualizado” reflete o conteúdo do processo em seu aspecto qualitativo e quantitativo. Ainda no mesmo livro, a autora altera o termo “casework” por especialista em “casework”, assinalando que as operações realizadas no “casework” são essencialmente as de solução de problemas.   Procurou identificar, na prática, os elementos e os meios usados pelo Assistente Social, estabelecendo os métodos e suas modalidades de serviço, oferecendo uma  dimensão nova no processo de Serviço Social de Casos.
   Entendemos que o Serviço Social é um “fato humano”, onde os fatores externos e internos sempre estão em movimento, influenciando a vivência do indivíduo em sua totalidade. De fato, o Serviço Social de Casos acontece entre pessoas,o tratamento do indivíduo geralmente abrange mais de uma pessoa, em particular a sua família, mas o responsável em todos os momentos, na solução de seus problemas é o próprio cliente.
  Os termos Serviço Social Clínico e casework, podem ser conceituados como métodos de tratamento que focalizam as áreas de desajustes do indivíduo, representadas por determinadas sintomatologias que são interpretadas através das teorias freudianas.
   O Serviço Social divide com as outras áreas do conhecimento o seu saber profissional, o que só vem nos ajudar a desenvolver um trabalho científico, que visa o aperfeiçoamento de nossa prática profissional. É desta forma, que o Assistente Social deveria se   utilizar da teoria freudiana para a intervenção nos processos terapêuticos.   Podemos , assim, dizer que esta é a característica principal do casework, ou seja, a utilização dos processos terapêuticos no tratamento do cliente.
   Por outro lado, existem vários conflitos , inseguranças, e dúvidas quanto a capacitação do Assistente  Social de fazer uso destas teorias. Apesar de reconhecermos a importância da teoria freudiana, devemos nos lembrar que o Serviço Social contribuiu muito para com a psicanálise, com sua visão e compreensão do papel da estrutura da família, as situações de realidade social do cliente, ou seja, os seus problemas imediatos, concretos, as questões de poder, opressão e classe social. Em realidade o que acontece é uma troca, uma interdisciplinariedade que só vem a acrescentar as duas práticas profissionais.
  Ressaltamos, que o Serviço Social de casos, na sua origem teve a base científica da sociologia com estudos feitos por Mary Richmond. Nesta visão, não é possível separar o cliente do seu ambiente, e este meio com certeza influenciará na personalidade do indivíduo.
   Com a divulgação das idéias de Mary Richmond e com o advento da divulgação das teorias freudianas, na década de 30, o Serviço Social toma emprestado estas teorias e as utiliza em sua formação e em suas especializações. O Serviço Social Clínico, surge como uma especialização do Serviço Social de casos. Especialização esta que está voltada também para a psicoterapia.
   Em 1933, o Serviço Social obteve a contribuição de Jessie Taft que veio trazer para o Serviço Social a dimensão terapêutica em seu estudo entitulado “Relationship Therapy” com a influência direta de Otto Rank. Mais tarde , em 1951, na 2ª edição do livro de Gordon Hamilton “ Teoria e Prática do serviço Social “, a autora define casework como uma psicoterapia apoiada no conceito de fato psicossocial distinta da psicanálise, embora utilizando os princípios psicanalíticos.
   Nesta ordem de idéias, os psicólogos focalizam a transferência como uma questão primeira do tratamento, já o casework vê esta questão como acidental no tratamento, mas entendendo que este momento é inevitável e deve ser encarado de forma construtiva para ambos. Os psicólogos estudam a questão dos sonhos e do inconsciente com profundidade; já os Assistentes Sociais não trabalham com profundidade  com estes elementos no tratamento. O que pode ocorrer com o Assistente Social bem orientado, é utilizar do material do sonho, quando é levantado pelo cliente e nos seus limites metodológicos, entendendo que este material é composto por três partes: 1- a realidade vivenciada pelo cliente: 2- os conflitos que são manifestados através de determinados sonhos de forma simbólica ou explícita;3- a transferência, com a manifestação do afeto do cliente para com o A.S., quando este é o centro dos sonhos.
   Devemos admitir que esta questão pode ser polêmica para os Assistentes Sociais , mas na opinião de Hollis o casework, certamente precisa conhecer um pouco as questões do inconsciente. É amplamente reconhecido que os caminhos que nos levam a vida mental e comportamental do indivíduo, passam pelas questões do inconsciente. Para a autora, tal conhecimento é essencial para compreendermos o diagnóstico e o tratamento dos problemas interpessoais e de ajustamento do cliente, as questões do inconsciente e do consciente são sempre envolvidos em tais problemas.
   Com Hollis , podemos concluir que  é importante conhecermos o valor da teoria dos mecanismos inconscientes do cliente e entendermos que estes elementos se refletem na transferência e no relacionamento terapêutico, sem contudo o Assistente Social estimular e aprofundar o material inconsciente do cliente.
  O que observamos hoje, é a grande demanda por assistentes sociais na área de saúde, mas com a determinação do Conselho Profissional, quanto a restrição de práticas terapêuticas, a partir do Parecer Jurídico de 2008, muitos profissionais não se especializam nas diversas linhas psicoterápicas, o que minimiza a  possibilidade de ação profissional do A.S. que deveria atuar nesta perspectiva somente com especialização, pós graduação, tal como ocorre em outros países, que não enfocam somente os aspectos políticos, sociológicos e antropológicos do Serviço Social, mas que entendem que o aspecto psicoterapêutico é também de fundamental importância para o entendimento do cliente.

                      Jane 

Continua: 2.2- Histórico do Serviço Social Clínico.

3 comentários:

  1. Parabéns, uma ótima explicação e resgante histórico de uma riqueza enorme de nossa profissão que precisa ser recuperada e resinificada. Parabéns.

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  2. Olá. Obrigada pelo comentário.

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  3. Jane e demais colegas que defendem o Serviço Social Clínico tenho uma ótima noticia hoje 17 de outubro de 2020 as 9:35 em Toledo-PR, nasceu a Sociedade Brasileira de Serviço Social Clínico - SoBSSCm estamos tentando mudar a história, estamos todos juntos, contamos com vocês, vamos realizar dois eventos, com quem podemos falar para fazermos parceria? abraço e bom final de semana. meu contato 45. 999413948

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