segunda-feira, 1 de junho de 2020

# HANNAH ARENDT -ALGUMAS POESIAS


ALÉM DE NOTÁVEL FILÓSOFA ALEMÃ, SEUS TEMAS SEMPRE ESTAVAM PRESENTE , NA FILOSOFIA, NA TEORIA POLÍTICA, LIBERDADE, JUDAÍSMO, TOTALITARISMO, BANALIDADE DO MAL, ENTRE OUTROS. PARA ALÉM DESTES TEMAS ELA GOSTAVA MUITO DE POESIA, E DEIXA SUAS REFLEXÕES E SENTIMENTOS VASCULHAREM O SUBTERRÂNEO DE SUAS EMOÇÕES.


Canção de verão

Através da abundância que amadurece no verão
Eu irei — e deslizarei minhas mãos,
Estenderei meus membros doloridos pa­ra baixo,
Em direção à terra escura e pesada.

Os campos que se inclinam e sussurram,
As trilhas nas profundezas da floresta,
Tudo exige um estrito silêncio:
Que possamos amar embora soframos;

Que nosso dar e nosso receber
Possam não contrair as mãos do sacerdote;
Que em quietude clara e nobre
Possa a alegria não morrer para nós.

As águas de verão transbordam,
O cansaço ameaça destruir-nos.
E perdemos nossa vida
Se amamos, se vivemos.

Perdida em autocontemplação
Quando olho minha mão —
Estranha coisa me acompanhando —
Estou então em nenhuma terra,
Por nenhum Aqui e Agora,
Por nenhum Que apoiada.

Então sinto que deveria desprezar o mundo.
Deixar o tempo passar se ele quiser
Mas não deixar que haja mais sinais.

Olhe, aqui está minha mão,
Minha e estranhamente próxima,
Mas ainda — uma outra coisa.
Será mais do que sou?
Terá um propósito mais alto?

Canção da Noite
E se profundamente nos cansamos,
No colo noturno da noite
Esperamos por um suave consolo.
Esperando, podemos perdoar
Toda dor, toda aflição.
Nossos lábios começam a se fechar –

Sem som o dia inicia sua ascensão…
O amor é uma poderosa força antipolítica- TRECHO DE 
"A CONDIÇÃO HUMANA", DE HANNAH ARENDT
“O amor, em virtude de sua paixão, destrói o ‘entre’, esse espaço que nos relaciona com outros e nos separa deles. Enquanto dura seu encanto, o único ‘entre’ que pode inserir-se no meio de dois amantes é a criança, o próprio produto do amor. A criança, esse ‘entre’ com que os amantes agora estão relacionados e mantêm em comum, é representativa do mundo onde ela também os separa; é uma indicação de que eles inserirão um novo mundo no mundo existente. Por meio da criança, é como se os amantes retornassem ao mundo do qual seu amor os expeliu. Mas essa nova mundanidade, resultado e único final possíveis de um caso de amor, é, num certo sentido, o final de um amor, que deve superar novamente os padrões ou ser transformado em outro modo de estar juntos. O amor por sua natureza não é mundano, e é por isso — não por raridade — que é não apenas apolítico, mas antipolítico, talvez a mais poderosa de todas as forças antipolíticas humanas.” 


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